Editorial: Combater o trabalho escravo deve ser compromisso de todos

Estou com fomeEditorial, por Luis Miguel Modino*

Na Semana Nacional de Combate ao Trabalho Escravo somos chamados a refletir sobre uma realidade ainda presente no meio de nós. No dia 28 de janeiro é a data em que se faz memória e se reafirma o compromisso no combate de uma prática cruel e desumana no Brasil. Não podemos fechar os olhos, uma atitude muito presente na sociedade brasileira diante dessa e muitas outras situações. Somos desafiados a ficar de olho aberto para enfrentar uma realidade que provoca dor e sofrimento em muita gente.

A data, que vem sendo celebrada desde sua instituição em 2009, lembra o fato acontecido em Unaí (MG), em 28 de janeiro de 2004, quando três auditores-fiscais do trabalho e o motorista que dirigia o carro, foram assassinados enquanto iam para fiscalizar situações análogas ao trabalho escravo em fazendas de feijão na região.

Ninguém pode ignorar que o Trabalho Análogo à Escravidão é uma das formas mais cruéis de tráfico de pessoas. Mesmo com os avanços na fiscalização, os números ainda são alarmantes. Sirva como exemplo o fato de que em 2023, mais de 3.100 trabalhadores foram resgatados de situações degradantes e desumanas, caracterizadas por jornadas exaustivas, condições de trabalho insalubres, cerceamento de liberdade e, muitas vezes, violência física e psicológica, segundo dados da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

O Papa Francisco tem insistido em que o trabalho é fundamental para a dignidade de uma pessoa, considerando a escravidão moderna como crime de lesa humanidade. São pensamentos que tem que nos levar a refletir sobre situações presentes em nosso meio, dado que o trabalho escravo se manifesta de muitos modos na sociedade brasileira, indo além do que acontece no campo. O trabalho escravo é uma realidade nas fábricas, em empresas de todo tipo e até no trabalho doméstico.

As vítimas sempre são as pessoas mais pobres e necessitadas, que diante da falta de recursos e oportunidades são aliciadas com falsas promessas de emprego e submetidas a condições de exploração que violam seus direitos humanos mais básicos. Uma realidade que, mesmo aqueles que conhecem, nem sempre é denunciada.

Não podemos aceitar que o lucro de pessoas sem escrúpulos fale mais alto do que os direitos humanos. É inadmissível que ainda hoje algumas pessoas sejam privadas de direitos básicos em consequência do trabalho escravo. Se faz necessário tomar postura, mas na verdade continuamos comprando produtos de empresas condenadas por esse tipo de práticas, e inclusive tentamos contratar trabalhadores sem garantir todos os direitos que eles têm.

A realidade muda quando o conjunto da sociedade se empenha para que assim seja. Diante de qualquer tipo de trabalho escravo, diante de qualquer situação de tráfico de pessoas, a atitude tem que ser firmemente contrária. A vida das pessoas depende de nosso compromisso, e por isso estar de olho aberto é uma atitude decisiva.

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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB