Por Luis Miguel Modino*
A violência deixou de ser um conceito e se tornou algo próximo, muito próximo da gente, uma violência que faz com que a vida da gente dependa de um dedo colocado no gatilho de uma arma que pode ser disparada por alguém que pouco ou nada tem a perder.
Em qualquer lugar que você estiver, na rua, no ônibus, no rio, inclusive dentro da própria casa, corre o risco de ficar na mira da arma. A gente não fala de coisas que aparecem nos jornais e sim de situações pelas que nos últimos dias a gente passou e também pessoas próximas, o que nos faz ver com preocupação o futuro de uma sociedade que se precipita ladeira embaixo.
A coisa mais fácil é culpabilizar aqueles que empunham as armas, que não estão livres de culpa, mas também não podemos dizer que eles são os únicos culpados. Somos também vítimas de um Estado falido, onde as políticas públicas se tornaram inexistentes, onde se quer disfarçar a falta de segurança pública querendo colocar armas na mão do povo, armas que também estão nas mãos de pessoas que as usam para delinquir.
O desemprego, sobretudo entre os mais jovens e entre os estratos sociais mais baixos aumenta a cada dia, o que faz com que outras alternativas, claramente ilícitas, se tornem opção, muitas vezes a única escolha. Sem emprego, sem expectativa de vida, sem perspectivas claras de futuro, as alternativas se reduzem, e todos somos prejudicados por uma situação social que também, em maior ou menor medida, ajudamos a criar.
Aí a gente logo diz que nada tem a ver com tudo isso, mas na verdade afirmar isso é consequência da nossa falta de reflexão, de nos questionarmos sobre o rumo de uma sociedade da qual todos e todas fazemos parte. Na vida social, os problemas são igual bola de neve, que só cresce na medida em que a deixamos rodar, na medida em que nos desentendemos daquilo que acontece do nosso lado.
Cada vez mais, nos isolamos atrás das nossas falsas seguranças, nos desentendemos de situações que estão do outro lado do muro que temos levantado para supostamente nos proteger. Mas sabemos que não podemos viver eternamente isolados, e que antes ou depois vamos nos tornarmos vítimas desse sistema enfermo.
Como mudar a realidade? O que fazer como sociedade para oferecer alternativas reais para aqueles que hoje fazem escolhas erradas? Como contribuir para superar situações que só serão resolvidas na medida em que todos nos envolvamos? O que eu posso fazer? O que eu vou fazer para que o futuro seja diferente, para que a sociedade do amanhã não sofra com aquilo que hoje nós estamos sofrendo?
Não é só com os outros, também é comigo, com você, com todos nós. Antes ou depois, essa violência vai chegar próxima de você, mas nesse momento dificilmente vamos resolver o que deveria ter sido resolvido antes, muito antes. Não esqueça que estar na mira sempre é um grande risco, e cuidar da vida sempre tem que ser prioridade.
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB