Editorial: Sabemos onde estamos? Queremos sabê-lo?

Editorial Por Luis Miguel Modino*

A pergunta que nosso arcebispo, Dom Leonardo Steiner, se fazia na festa da nossa padroeira, onde questionava onde se encontra hoje a nossa sociedade, deveria nos levar a refletir, ainda mais quando no mesmo dia acontecia um fato esperado por boa parte da humanidade nos últimos meses, eram aplicadas as primeiras vacinas contra a Covid-19, a pandemia que já tem provocado quase 70 milhões de contágios no mundo e está próximo de superar 1,6 milhões de falecidos. No Brasil, um dos países mais atingidos, nesta semana será superada a cifra de 180 mil mortos e já são 6,7 milhões de contagiados. Isso segundo números oficiais, pois os números reais, que tudo indica que são bem maiores, nunca serão conhecidos.

Diante disso, somos obrigados a nos perguntar se realmente somos conscientes de onde hoje estamos. Existem muitos sinais que nos levam a afirmar que a gente perdeu o norte, que não sabemos, e ainda pior, não queremos saber para onde vamos. As informações que os iluminados de plantão, colocam nos aplicativos de comunicação e nas redes sociais são mais aceitas por boa parte da população, do que o trabalho contrastado, após de anos de estudo e pesquisa, de cientistas que tem se esforçado para encontrar uma solução diante de tanta morte e sofrimento.

O fanatismo e a insensatez estão penetrando na mente de muita gente como uma pandemia que pode provocar consequências desastrosas para o futuro da humanidade e do planeta. A divisão está se exacerbando cada vez mais, muita gente perdeu a noção de fraternidade e só vê o outro como inimigo. Qualquer coisa é motivo suficiente para provocar o enfrentamento, a gente vive armado, sendo a língua e os dedos que teclam em nossos celulares e computadores, nossa principal arma, que dispara rajadas incessantes que aos poucos acabam com a vida dos outros, inclusive daqueles que um dia já foram próximos da gente.

Qual o caminho a seguir diante dessa realidade? Realmente nos importa saber onde estamos? Nos preocupa encontrar caminhos diferentes que façam possível a convivência, inclusive a fraternidade? Sem se questionar, a gente não consegue avançar, não daremos os passos necessários que como humanidade precisamos. Escutar se tornou uma atitude urgente, mas ainda é mais imprescindível discernir. Diante de tantas vozes, de tanta informação com que a cada instante somos bombardeados, discernir é uma atitude que não pode ser mais deixada de lado, nem adiada.

A coletividade e a individualidade são realidades cada vez mais enfrentadas. A entronização do indivíduo não ajuda na construção de um mundo melhor para todos e todas. O egoísmo, um pecado que aparece quando o indivíduo se torna o único referente, tem como consequência o desprezo e o menosprezo do outro, especialmente daquele que, por qualquer motivo e sem nenhuma justificativa, é considerado diferente.

A consequência disso, voltando às palavras de nosso arcebispo na festa da padroeira, é que “talvez estejamos até perdendo o senso da nossa humanidade, porque não conseguimos mais olhar para os pobres, para os desvalidos, para aqueles que necessitam ser de novo revestidos na sua dignidade, melhor, possam aparecer na sua dignidade, porque revestidos estão há muito tempo”. Não olhemos para o outro lado, o caminho é claro, só falta coragem para enfrenta-lo.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.