Editorial: O Espírito não pode ficar preso no sambódromo

Estou com fomeEditorial, por Luis Miguel Modino*

Não é fácil juntar oitenta mil pessoas, um número importante, mas que só representa pouco mais de seis por cento daqueles que se declaram católicos na arquidiocese de Manaus. A Festa de Pentecostes, a Festa do Espírito Santo é um momento importante na vida das comunidades da Igreja de Manaus, mas o desafio é que esse momento seja mais do que um evento, que se torne parte de um processo que leve aos católicos a assumir sua condição de enviados e enviadas com a força do Espírito Santo para anunciar o Evangelho.

Nessa grande festa, que encheu de alegria o coração de muitos daqueles que se fizeram presentes, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, refletiu na homilia sobre a riqueza da Igreja católica nas vocações, nos ministérios, nos serviços, nas pastorais, “tudo sendo alimentados, revigorados, fortalecidos pelo Espírito”, que vai suscitando ministérios. Ele fez um chamado a ter na arquidiocese de Manaus o ministério da missão, “em cada comunidade termos irmãos e irmãs que levam a Palavra de Deus nas casas, para que a nossa Igreja seja cada vez mais missionária, cada vez mais evangelizadora, empurrada pelo Espírito, atraída pelo Espírito”. Isso porque “a comunidade não é para ela, a comunidade é para os outros”, pedindo “colocar os nossos dons ao serviço”.

Esse ministério da missão tem que nos levar àqueles que nos dizemos católicos a pensar em caminhos de missão, lá onde a gente vivencia seu batismo. O grande desafio é conseguir que as pessoas possam descobrir a presença de Jesus em sua vida do dia a dia, que Jesus é alguém que está ao nosso lado sempre, que Deus está no meio das panelas, segundo dizia Santa Teresa D´Avila.

Ninguém pode prender Deus ou pensar que Deus só se faz presente em alguns lugares, em alguns momentos. Deus habita a história em todo momento, em todo lugar, em toda circunstância, o desafio é fazer com que cada pessoa possa descobrir essa presença. Daí a importância do nosso testemunho, de assumir a missão como batizados e batizadas, mas também como Igreja.

Sem isso, Deus vai continuar preso em determinados momentos, em determinados lugares. A gente vai precisar esperar o tempo passar ou se deslocar num lugar concreto para poder nos encontrarmos com Deus. Isso faz com que a gente esqueça que Deus, através de seu Espírito habita todos os cantos do mundo, Ele está no meio de nós, se faz presente na vida cotidiana, uma afirmação que faz parte da liturgia da Igreja católica, e que deve nos levar como cristãos a ter um olhar diferente, que nos permita enxergar essa presença.

Uma Igreja missionária ajuda a entender quem é o Deus Trinitário, esse Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo, esse Deus que se manifesta de diversos modos e que sempre acompanha a vida da humanidade. Quando cada batizado, cada batizada, descobre isso e o testemunha com sua vida, as pessoas vão se interessando em seguir esse Deus que nunca fica preso em nenhum espaço, em nenhum evento, esse Deus que em todo momento e em todo lugar acompanha a vida da humanidade, também a tua e a minha.

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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB