Um dos piores vírus que a humanidade sofre é o egoísmo, que tem como consequência a falta de solidariedade. É gente que debocha dos mais fracos, daqueles que mais precisam, que fica rindo de tudo aquilo que lhe faz graça, mesmo que os outros não entendam o motivo da risada. Essa é uma situação que se agrava com a perversidade de quem só atrapalha a chegada de pequenas ajudas no bolso dos mais pobres, enquanto não repara em dar facilidade para quem, inclusive em tempo de crise e recessão econômica, estão ficando mais e mais ricos. No final das contas, o dinheiro não some só se concentra.
Editorial por Luis Miguel Modino*
Tem sido colocado em nossa cabeça que a única preocupação deve ser nós mesmos, bom, a gente também pode se preocupar um pouco, mas não demais, com a nossa família e aqueles que fazem parte da nossa panelinha. Fora disso, os outros, e desculpem a expressão, se lasquem.
Essa doença se agrava em sociedades que se intitulam de desenvolvidas, civilizadas, ainda mais entre aqueles que se sentem independentes, autoimunes a qualquer tipo de doença, de problema. O que dizer da denominada clase A?, mesmo que isso também se faz presente em quem paga suas férias de quatro dias, onde não esquece de levar a marmita, em 12 prestações.
Tem gente que está sofrendo, e muito, com a pandemia do coronavírus, nem só com a doença, inclusive com a morte de pessoas próximas, mas também com a crise econômica, que está afetando especialmente os mais pobres, que cada dia que passa têm mais complicado levar um prato de arroz e feijão em casa para alimentar seus filhos. Essa é uma situação que se agrava com a perversidade de quem só atrapalha a chegada de pequenas ajudas no bolso dos mais pobres, enquanto não repara em dar facilidade para quem, inclusive em tempo de crise e recessão econômica, estão ficando mais e mais ricos. No final das contas, o dinheiro não some só se concentra.
A gente gosta mais de escutar, ler, do que de falar, e no momento atual, a gente lê e escuta cada coisa que fica de boca aberta. As redes sociais, que poderiam ser local de encontro e partilha de bons sentimentos, se tornaram para alguns um instrumento que ajuda a gerar desentendimento, enfrentamento, briga, mostrando o egoísmo que os domina. Tem quem paga mico por isso, até o ponto de suas postagens serem removidas, mas também tem quem se serve do falso anonimato que acreditam ter para mostrar seus sentimentos mais baixos e dar a entender que o processo evolutivo da espécie humana está regredindo.
A gente se depara com muitas iniciativas solidárias ao longo do planeta, onde inclusive os mais pobres compartilham o pouco que tem, gente que em plena rua coloca uma mesa onde quem tem dá e quem precisar, pega. Um claro exemplo de que para dar não é preciso ser rico, e sim solidário, caritativo, que, para quem é cristão, é uma das atitudes fundamentais e um teste definitivo para que Jesus nos diga, venham a mim benditos do meu Pai, pois eu estive com fome e vocês me deram de comer.
O egoísmo é próprio de menino mal criado, mesmo que esse menino já tenha 65 anos, pois tem coisas que com o tempo, se a gente não cuidar na hora certa, só pioram. Nem só isso, pois essa é uma doença muito contagiosa, que geralmente passa de pai para filho, se perpetuando de geração em geração. É gente que debocha dos mais fracos, daqueles que mais precisam, que fica rindo de tudo aquilo que lhe faz graça, mesmo que os outros não entendam o motivo da risada, mas mesmo assim sempre vai ter quem vai rir desse tipo de graças sem graça.
A liberdade mal entendida, a libertinagem, é mais uma atitude que mostra que esse vírus do egoísmo, da falta de solidariedade, está muito presente na sociedade atual. Viver em sociedade, ainda mais num mundo globalizado, do qual nos aproveitamos quando nos interessa, tem que nos levar a entender que se faz necessário sermos solidários com os outros. Só desde a solidariedade o mundo tem superado a maiores crises que tem enfrentando ao longo da história da humanidade.
Sejamos solidários, vamos nos compadecer com a dor dos outros, vamos cuidar daquilo que Deus sempre cuidou, da vida para todos. Deixemos de ser meninos mal criados, de tanto reclamar, agradeçamos pelo que temos, que é muito, sobretudo pela nossa vida, mas também por tantos gestos de solidariedade que a gente vê, inclusive para com a gente. E não esqueça, fique em casa.
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.