Editorial: Ir ao encontro para escutar e aprender

Por Luis Miguel Modino*

Ir ao encontro das pessoas é elemento fundamental na vida da Igreja, na vida de todo batizado. É no encontro que a gente vai descobrindo aquilo que faz parte da vida dos outros. A gente escuta, partilha a vida, conhece realidades que até aquele momento eram distantes, cresce, se enriquece.

Vendo e acompanhando a missão que os seminaristas do Seminário São José de Manaus realizaram no último final de semana, a gente vai descobrindo o que isso significa na vida das pessoas. Ainda mais em uma sociedade onde cada vez mais existe a dificuldade de parar, sentar, escutar, se interessar pela vida do outro, não só pelos seus problemas e dificuldades, também pelas suas alegrias e conquistas.

Quando a gente se faz presente em realidades que nos resultam desconhecidas, podemos ter uma atitude de distância, de medo, diante de uma realidade diferente, mas também podemos nos interessar diante daquilo que nos ajuda a ter um outro olhar da realidade. Viver de olho aberto nos humaniza, mas também poderíamos dizer que nos diviniza, nos aproxima de um Deus que não tem medo de caminhar no meio do povo, de se misturar e acompanhar a vida das pessoas.

Existem realidades que são consideradas exóticas, mas que muitas vezes não interessam. As dificuldades que muitas vezes vivem as comunidades indígenas e ribeirinhas, inclusive aquelas mais próximas de Manaus, deve nos levar a refletir. O abandono institucional, também eclesial, a falta de políticas públicas que garantam os direitos fundamentais deve ser pauta de discussão no âmbito social, político e eclesial, mas para isso é preciso conhecer a realidade e entender como a falta daquilo que pode ser considerado mais do que necessário atinge à vida das pessoas.

Ainda mais quando a gente percebe a capacidade de acolhida que o povo tem, sua disposição para partilhar, para dividir a vida e o que eles têm, mesmo que aparentemente seja pouca coisa. Experimentar isso, gera alegria, dá sentido à vida, ajuda a superar as dificuldades que a gente encontra muitas vezes para chegar até os outros, dificuldades que muitas vezes a gente faz maiores do que realmente são.

É no diálogo com o outro que nós vamos construindo relações, mas também construindo vida, em nós mesmos e naqueles com quem a gente vai se encontrando. Assim nós vamos enriquecendo nossa existência, em todas suas dimensões, também em nossa vida espiritual. Não podemos esquecer que a gente tem a possibilidade de se enriquecer ainda mais quando se depara com pessoas diferentes. A diferença não pode gerar desconfiança e sim interesse por aquilo que era desconhecido.

São histórias de vida, clamores, experiências de uma vida de fé, de confiança em Deus e nas pessoas, através das quais descobrimos a mão de Deus desenhando os caminhos da história e da vida do povo. Sempre em atitude de aprendizagem, de vontade de conhecer, e assim crescer e encontrar aquilo que fundamenta e dá sentido à vida da gente.

Ouça:

*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB