Por Luis Miguel Modino*
Deus ouviu o clamor de seu povo no Egito e enviou um libertador. Acreditamos em um Deus que não é alheio ao sofrimento do povo, que não olha para o outro lado diante das injustiças, que acolhe, abraça e cuida das vítimas, mas que faz isso através da gente.
15 anos atrás nasceu a Rede um Grito pela Vida, uma iniciativa da Vida Religiosa no Brasil para acompanhar as vítimas de um crime ignorado secularmente: o tráfico de pessoas e a exploração sexual de crianças e adolescentes.
Tem sido uma caminhada nem sempre fácil, que desde 2011 também está presente na Amazônia, rota de tráfico de pessoas e local de exploração sexual de crianças e adolescentes, muitas vezes disfarçada, provocando situações gritantes que tem como consequência o sofrimento de muitas vítimas inocentes.
“No Grito da Vida nasce a Esperança”, foi o lema escolhido pela Rede um Grito pela Vida para comemorar seus 15 anos de caminhada. São palavras que devem nos levar a tomarmos consciência da necessidade de não ficarmos calados diante de situações que geram morte, que acabam com os sonhos de tanta gente.
Um grito que tem que ser coletivo e que deve ser assumido como consequência da nossa condição de cidadãos e cidadãs, mas também da nossa fé, do nosso compromisso com um Deus libertador, solidário, compassivo, misericordioso. A fé nos ajuda a ir além, a superar os medos que muitas vezes nos acomodam e nos impedem assumir as causas do povo que sofre. A fé no Deus de Jesus Cristo nos leva a sair de nós e nos colocarmos no lugar do outro, dos invisibilizados, dos descartados por uma sociedade construída em base da exploração dos pequenos.
O Evangelho nos leva a gritar, a anunciar a Boa Nova, que se traduz em gestos e atitudes concretas em favor da vida plena para todos e todas, também para aqueles que sempre foram colocados na margem da história.
O que é que está apagando nossa voz? O que está nos impedindo de nos comprometermos na defesa da vida? Por que aos poucos a gente vai perdendo a esperança de lutar por um mundo melhor para todos e todas? O que faz com que a gente se encerre dentro de si e esqueça que bem próximo de nós tem pessoas que são vítimas da exploração sexual e do tráfico humano?
As comemorações tem que ser momentos para nos impulsionar e nos fortalecer, para colher forças que nos ajudem a continuar na luta. A vida continua nos chamando e nos desafiando a ir além, a olhar as vítimas e dizer para elas que estamos dispostos a ficar do seu lado, a acompanhar seu sofrimento e continuar apostando na vida.
Esse é um chamado para a gente, para mim, para você, para todos e todas nós. Não olhe para o outro lado, não pense que não tem nada a ver com a gente. Tem sim, se convença disso, assuma seu compromisso e se torne um libertador, uma libertadora, que tire do sofrimento as pessoas que hoje continuam sendo escravizadas por uma sociedade cruel, sem sentimentos, que olha para as pessoas como objetos e não como portadoras de vida plena.
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB