Editorial: Eucaristia, vida partilhada no cotidiano

Editorial Por Luis Miguel Modino*

Corpus Christi é a festa da Eucaristia, do Corpo e Sangre entregado como alimento para todos. Celebrar a Eucaristia tem que nos levar a entender a necessidade de assumir a partilha como modo conatural de ser e de entender a própria vida e nosso relacionamento com os outros, fundamentado na caridade, na misericórdia, na samaritaneidade.

A Eucaristia não acontece só dentro do templo e não pode ser reduzida ao marco temporal em que acontecem os ritos próprios da celebração. O grande desafio é levar a Eucaristia para a vida do dia-a-dia, e isso acontece quando a gente vive aquilo que a gente celebra, um Deus que em Jesus se doa, se entrega por completo e alimenta a vida de quem tem fome dele.

A pandemia da Covid-19 tem mostrado a presença de uma Igreja que tem sido testemunho de partilha. Diante do descaso do poder público, pouco ou nada preocupado com o sofrimento provocado pela morte, a fome, o desemprego, e tantas outras realidades já presentes, mas que tem aumentado ao longo do último ano, podemos dizer que as atitudes próprias daqueles que sustentam sua vida na Eucaristia tem se espalhado na nossa sociedade.

A Eucaristia é alimento que nos fortalece e nos dá a capacidade de ter maior disposição para ir além, para chegar em situações e pessoas que precisam de nossa ajuda e solidariedade. Estar ao lado daqueles que sofrem deveria ser um sentimento humano, mas tem que ser uma atitude inadiável na vida daqueles que se alimentam da Eucaristia.

Não podemos esquecer que o propósito de Jesus foi fazer realidade um mundo melhor para todos e todas, onde o sentimento comunitário, o sentimento de fraternidade fosse assumido como atitude que supera o individualismo e o egoísmo, elementos presentes na condição humana. Ser discípulos e discípulas, um chamado recebido pelo nosso batismo e alimentado cotidianamente na Eucaristia, nos leva a ser Igreja em saída, que vai ao encontro dos mais vulneráveis, daqueles que sofrem as consequências de um sistema injusto e desigual.

É tempo de refletir para poder entender, para poder assumir as atitudes que tem que estar presentes em nossa vida, colocando o outro, especialmente aqueles que sofrem, no foco do nosso olhar. A Eucaristia tem que nos levar a sair de nós, a superar posturas intimistas, que nos fecham dentro de nós, dos nossos problemas e preocupações.

Aproveitemos a festa do Corpo e Sangue de Cristo, a festa da Eucaristia, para entender seu sentido e significado, para assumir as consequências que esse alimento provoca na nossa vida. Estamos diante de uma realidade que nos transforma e faz de nós homens e mulheres com um olhar diferente, próprio daquele que nos alimenta e fortalece, que nos ajuda a entender a vida como testemunho de partilha e doação.

Ouça:

*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB