Editorial, por Luis Miguel Modino*
Todos nós somos chamados por Deus, a resposta é pessoal e diferente, mas o chamado acontece em algum momento da nossa vida. Nossa resposta depende muitas vezes da nossa capacidade de escuta, uma atitude cada vez menos presente em nossa vida. Muitas pessoas dizem: “eu não tenho tempo para escutar”. Aos poucos vamos nos desentendendo dos outros, e vamos nos desentendendo de Deus.
Não podemos esquecer que Deus nos fala de muitos modos, mas especialmente nos fala nos outros. As vezes naqueles com quem a gente convive no dia a dia, as vezes pessoas com quem não temos um contato cotidiano, mas também pode ser que Ele nos fale através de alguém que a gente encontrou uma vez na vida. Deus tem seu modo de agir, de nos fazer sua proposta.
Mas também temos que nos perguntar se nós somos propostas de Deus para alguém. É um desafio ser testemunhas de Deus para os outros, ajudá-los a descobrir que Deus pode ser importante em sua vida, que Deus quer acompanhá-los em sua caminhada. Não podemos esquecer que a resposta ao chamado que Deus nos faz a cada um, cada uma de nós, tem que nos levar a sermos testemunhas na vida dos outros.
E isso é algo que nasce do nosso batismo, pois é aí que Deus nos chama para sermos discípulos e discípulas, independentemente de como isso se concretiza no decorrer do tempo, do ministério que cada um assume, da vocação à qual nos sentimos chamados. É na diversidade de vocações que a Igreja se enriquece e cresce, fazendo com que possa ser melhor presença de Deus na vida da humanidade.
Nessa diversidade de vocações, a família, assumir o chamado de Deus a formar uma família, a ser família, nos leva a refletir sobre a importância que a família tem na vida da humanidade, como espaço de encontro, de partilha de vida, de descobrimento daquilo que vai construindo nosso futuro. Uma família que se concretiza de diversos modos e que foi se transformando em seu conceito ao longo da história, mas que não pode esquecer seu papel na vida das pessoas.
A família é desafiada a providenciar a seus membros a possibilidade de crescer, não só fisicamente, mas também na dimensão humana e na dimensão transcendente. A referência à transcendência acompanha a vida da humanidade desde que o ser humano foi avançando em racionalidade, como algo que complementa a dimensão humana de cada ser.
Temos em nossas famílias uma preocupação por essa referência à transcendência? Experimentamos, com a ajuda daqueles com quem partilhamos a vida, a presença em nosso meio dessa transcendência? Somos conscientes que essa referência à transcendência dá sentido à nossa vida e oferece a possibilidade dos outros se enriquecer a partir do convívio cotidiano?
Responder a essas perguntas nos ajuda a responder a Deus, a descobrir que essa resposta plenifica nossa vida, dá sentido a nossa existência e a nossa caminhada e relacionamento com os outros, a quem Ele também chama. Pode ser que sintam esse chamado através de nós, e ajudar o outro a se encontrar com a transcendência sempre vale a pena.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB