Por Luis Miguel Modino*
Existem palavras que deveriam ser mais do que conceitos para passar a ser atitudes, formas de vida, de enfrentar o dia-a-dia. Uma delas é conversão, algo que deveria ser assumido por todos os seres humano, mas que nunca pode ser deixado de lado por quem se diz cristão.
Na Igreja católica estamos vivendo o tempo da Quaresma, uma ocasião propicia para mudar de vida. Existe uma música, habitual em muitas celebrações durante o tempo da Quaresma, cuja letra diz: “Eis o tempo de conversão, eis o dia da salvação, ao Pai voltemos, juntos andemos, eis o tempo de conversão”. Mas a gente se pergunta até que ponto isso se torna realidade na vida das pessoas.
A conversão é um desafio pessoal, mas também social e eclesial. Uma pessoa que não se preocupa com mudar de vida está condenada a ficar reduzida a uma pequena expressão daquilo que ela pode chegar a ser. A conversão nos faz crescer, nos ajuda a colocar nossa vida ao serviço daquilo que ajuda a ser presença de Deus na vida dos outros e assim fazer realidade um mundo melhor para todos e todas.
A mesma coisa podemos dizer da sociedade e da Igreja. A conversão é caminho para uma sociedade e uma Igreja plenificadas, cheias de vida, cheias de sentimentos que geram atitudes positivas. A conversão faz com que as relações melhorem e a vida seja enfrentada desde atitudes novas.
Nos últimos dias da Quaresma, aqueles que têm fé devem se questionar o que tem representado este tempo em sua vida. Diante das situações que cada um está vivendo, mas também diante daquilo que acontece no mundo, no Brasil, em volta de cada um, como cada um viveu este tempo de conversão, em que tem melhorado, ou no mínimo em que tem descoberto que tem que melhorar.
Ainda estamos diante da oportunidade de parar e pensar, de nos perguntarmos em relação com a nossa vida pessoal, mas também sobre a sociedade da qual a gente faz parte, e sobre a comunidade eclesial onde a gente vive a fé. A crueldade do ser humano, algo que mais uma vez está sendo manchete nos jornais diante do que está acontecendo na Ucrânia, aqueles que se aproveitam da religião para conseguir fazer realidade desejos pessoais, a educação cada vez mais distante daquilo que deveria ser, são algumas das coisas a termos em conta.
De nada adianta falar de conversão, inclusive seguir os ritos próprios da Quaresma, se isso não nos leva a mudar de atitude, a viver de um modo diferente. Conversão é atitude, e nunca pode se reduzir a um conceito que a gente pronuncia, mas não vive e não assume como modo de vida.
As pessoas se convertem quando vivem a conversão e não quando simplesmente falam de conversão. Se a gente não assume uma mudança de vida, não se converte; se a gente não se deixa transformar em suas relações com Deus e com os outros, não se converte; se a gente não olha os outros com sentimentos de amor e misericórdia, não se converte. Por isso, é bom se perguntar: será que estou no caminho da conversão? Será que a Quaresma tem me ajudado a dar algum passo nesse sentido?
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB