Editorial, por Luis Miguel Modino*
Na última terça-feira (09), foi publicado o Instrumento de Trabalho da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade, que será realizada em Roma, de 02 a 27 de outubro de 2024. Numa sociedade marcada cada vez mais pela polarização, uma atitude também presente na Igreja católica, o Papa Francisco quer que os católicos aprendam a caminhar juntos, na escuta, no diálogo, na diversidade.
A diversidade nos enriquece, mas vivemos numa sociedade e numa Igreja onde aceitar e respeitar os modos diferentes de pensar e agir se torna cada vez mais difícil. Queremos impor nossas ideias, nossas propostas, nossas formas de vida, nosso modo de viver a fé em Deus, desprezando àqueles que escolhem caminhos diferentes, mesmo que eles sejam válidos e lícitos.
A publicação do Instrumento de Trabalho da Segunda Sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade tem provocado diversas reações, que nascem do fato de não encontrar na proposta de trabalho, algumas temáticas que essas pessoas consideram que tem que ser abordadas.
A proposta do Papa Francisco vai além das temáticas e tem a ver com as atitudes, com o modo de fazer as coisas, com as atitudes que temos com as pessoas. O fundamento da Igreja tem que ser caminhar juntos, ser comunidade, poder nos sentarmos juntos e escutar, dialogar, avançar juntos no mesmo caminho. Quando essas atitudes são garantidas, se faz possível discutir temáticas, quando isso não é possível, não adianta colocar qualquer coisa em debate.
O debate avança quando podemos falar com franqueza, quando sabemos que o outro está disposto a nos escutar e assumimos a necessidade de escutá-lo igualmente, quando a opinião divergente não fere e nos leva a refletir, a aceitar que a postura diversa pode ser o caminho a seguir por todos e todas. Ter atitudes fraternas, ver no outro, na outra, um irmão, uma irmã, e não adversários, são elementos que deveriam estar presentes na Igreja e assim essas atitudes se tronar testemunho para um mundo enfrentado e dividido.
O desafio é grande, ainda maior quando nos achamos cheios de razão, donos da verdade, quando olhamos para os outros com suspeita, com desprezo, com ares de superioridade. São essas as atitudes presentes naqueles que querem impor o caminho a ser seguido na sociedade e na Igreja católica. Pessoas que, independentemente de seu pensamento, se empenham em dizer como é que todo mundo deve caminhar.
Nunca podemos esquecer que jun
tos chegamos mais longe, que a presença dos outros anima a caminhada, que encontrar uma mão, um ouvido, um olhar, é algo que sempre nos fortalece. Sintamos a necessidade de caminhar juntos, de procurar caminhos comuns, de ser Igreja sinodal, de deixar que o tempo de Deus marque o momento certo para encarar os desafios, as temáticas.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB