Por Luis Miguel Modino*
A Carta aos Gálatas nos diz: “Não nos cansemos de fazer o bem; porque, a seu tempo colheremos, se não tivermos esmorecido. Portanto, enquanto temos tempo, pratiquemos o bem para com todos”. Esse texto tem inspirado o Papa Francisco em sua mensagem para a Quaresma de 2022.
Quem participou da celebração das Cinzas escutou: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. É um chamado pessoal, mas também comunitário. Somos chamados a mudar de vida, mas também de horizonte social, uma necessidade mais do que urgente em um mundo enfrentado pelas guerras, fruto do ódio cada vez mais presente na vida da humanidade.
O texto da Carta aos Gálatas nos fala de colheita, algo que é consequência da semeadura. Mas o que a gente está semeando, será que temos semeado o bem? Quais atitudes se fazem presentes na nossa vida? Em que valores educamos as futuras gerações?
O Papa Francisco nos faz ver que “muitas vezes, na nossa vida, prevalecem a ganância e a soberba, o anseio de possuir, acumular e consumir”. Daí o chamado da Quaresma “à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que a vida encontre a sua verdade e beleza menos no possuir do que no doar, menos no acumular do que no semear o bem e partilhá-lo”, afirma o Papa.
Muitas vezes nós reclamamos do que vemos em volta, mas esquecemos que isso é consequência do plantio em tempos passados. Pouco temos nos preocupado de semear o bem para os outros, nos deixando prender pelas “lógicas mesquinhas do lucro pessoal”, deixando de lado toda atitude de gratuidade, segundo nos diz a mensagem pontifícia.
A pandemia nos lembrou que estamos todos no mesmo barco, que ninguém se salva sozinho, algo que muitos não querem entender. Por isso somos desafiados a cada dia a não nos cansarmos de extirpar o mal da nossa vida, e assumir a necessidade de não nos cansarmos de fazer o bem, de praticar a caridade, de cuidar de quem está próximo de nós, especialmente de quem está ferido “para procurar, e não evitar, quem passa necessidade; para chamar, e não ignorar, quem deseja atenção e uma boa palavra; para visitar, e não abandonar, quem sofre a solidão”, insiste o Papa Francisco.
Essa mudança pessoal e comunitária deve ser constante, aos poucos, juntos, porque juntos somos mais e chegamos mais longe. Porque no cuidado mútuo encontramos os melhores caminhos para alcançar os frutos. Porque o amor fraterno é sinal de alegria e presença na vida da gente de um Deus que sempre ama, que sempre se doa, que nunca cansa de fazer o bem. E a gente, será que vai cansar?
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB