Editorial: A economia fundamental é a vida

Nos últimos dias temos nos deparado com pessoas que banalizam a morte dos outros, dentre eles grandes empresários e políticos, que pouco se importam com a morte dos inocentes.Uma só morte em decorrência de salvaguardar a economia já deveria ser motivo de pesar para todos nós, ainda mais para quem diz ter fé.  A Igreja católica no Brasil está sendo clara em referência à situação que o planeta e o país estão vivendo, mesmo que alguns ainda se empenhem em tampar o sol com a peneira. Ninguém esqueça que antes de cuidar do dinheiro é imprescindível cuidar da vida, essa é a melhor e primeira economia.

Editorial Por Luis Miguel Modino*

Falar de economia é falar de uma realidade que nos remite ao cuidado da casa. Desde essa perspectiva do cuidado devemos contemplar a realidade, especialmente em tempos de pandemia, nos momentos em que parece que o barco vai se afundar. Quando isso acontece, como já vimos em tantos momentos na nossa Amazônia, as pessoas que estão no barco, especialmente quando é alguém importante na vida dos outros, em primeiro lugar vão tentar salvar a vida de todo mundo. Depois que todo mundo estiver a salvo, se dá para salvar os pertences, a gente salva, mas só quando todo mundo estiver na beira.

Nos últimos dias temos nos deparado com pessoas que banalizam a morte dos outros, dentre eles grandes empresários e políticos, que pouco se importam com a morte dos inocentes. Uma postura que com certeza evitariam se essa pessoa fosse alguém importante na sua vida. Inclusive pessoas que se dizem cristãos, também católicos, defendem o crescimento econômico às costas da morte dos indefensos. Uma só morte em decorrência de salvaguardar a economia já deveria ser motivo de pesar para todos nós, ainda mais para quem diz ter fé.

O Papa Francisco tem usado uma imagem para explicar essa situação, dizendo que nunca viu caminhão de mudança atrás de cortejo fúnebre. Também se diz que caixão não tem bolso, algo que deve nos levar a pensar, a nos questionarmos e entender que a vida humana nunca pode estar ao serviço da economia. Essa, segundo o Papa Francisco é uma economia que mata, uma realidade cada vez mais presente em nosso planeta.

A Igreja católica no Brasil está sendo clara em referência à situação que o planeta, e o país estão vivendo, mesmo que alguns ainda se empenhem em tampar o sol com a peneira. Nesta quarta-feira, o presidente do episcopado, Dom Walmor Azevedo de Oliveira deixava clara sua postura. Ele dizia abertamente que “nós repudiamos, criticamos veementemente, autoridades do executivo nacional quando minimiza aquilo que é preciso ser realizado com responsabilidade por todos nós. A pandemia do COVID – 19, e muitas outras pandemias, não podem se compor agora mais e mais com pandemias de irresponsabilidades, de inconsequências e de falta de sentido humanístico e respeitoso para com a dignidade da pessoa humana”.

Sua postura não poderia ser outra, pois do contrário não faria sentido estar refletindo ao longo da quaresma sobre o cuidado da vida, tema da Campanha da Fraternidade em 2020. Esse cuidado é elemento fundamental, deveria ser, em todo ser humano. Para quem acredita que é Deus que nos conduz, essa tem que ser uma exigência fundamental, da qual ninguém pode abrir mão. Desde aí somos desafiados agora e sempre a construir “uma sociedade mais justa e fraterna, sem crimes ambientais, sem a ganância do poder, sem o apego ao dinheiro”, elementos presentes na fala do arcebispo de Belo Horizonte e Presidente da CNBB.

Mesmo que alguns se empenhem em abrir as Igrejas, movidos muitas vezes por interesses espúrios, que pouco tem a ver com o cuidado da vida e das pessoas em risco, a Igreja católica faz um chamado a ficar em casa. Ontem, em coletiva de imprensa, nosso arcebispo Dom Leonardo Steiner deixava claro que a vida está em primeiro lugar, insistindo em que a Igreja não é só essencial, ela é  vital, ela tem uma responsabilidade com as pessoas. Por isso, na Arquidiocese de Manaus, não terá celebrações sacramentais em público até ter certeza que o pior passou, enfatizava Dom Leonardo.

O cuidado com a vida só vai acontecer quando construirmos uma sociedade justa e fraterna. Por isso, os primeiros a ser cuidados são os mais pobres, os vulneráveis, garantindo trabalho e sustento para todos, como nos lembrava Dom Walmor. Somos chamados a sermos solidários como sociedade, a estarmos atentos à necessidade das pessoas. Ninguém esqueça que antes de cuidar do dinheiro é imprescindível cuidar da vida, essa é a melhor e primeira economia.

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.