Editorial: 2022, oportunidade e desafio para descobrir com urgência novos caminhos

Por Luis Miguel Modino*

Existem momentos em que a gente olha para trás, mas também para frente. O final do ano é um tempo de avaliação, mas também de procurar caminhos a seguir no tempo novo que se inicia, de perguntar sobre os avanços que a gente tem dado no ano que se encerra, pessoalmente, mas também como família, comunidade, sociedade. Tempo de avaliar os retrocessos, pois só assim a gente vai poder endireitar o rumo.

Se a gente tivesse que definir 2021 com uma palavra, acho que a grande maioria destacaria a pandemia e as consequências que ela trouxe para a humanidade. É verdade que podemos encontrar lições positivas nela, mas tem sido um tempo de dor, de luto, de sofrimento, de morte. A solidariedade, a empatia, a preocupação pelos outros se apresentam como grandes desafios para o futuro da humanidade, especialmente no Brasil, onde tudo isso parece que está sendo esquecido por uma parcela importante da população.

Acordar diante de uma realidade a cada dia mais cruel se apresenta como um grande desafio para 2022. A situação em que vivemos no Brasil, e a disputa política em 2022 devem levar ao povo brasileiro a refletir profundamente sobre as escolhas a serem feitas como país. Fazer realidade uma sociedade onde o povo possa usufruir daquilo que lhe pertence é uma necessidade a ser resolvida urgentemente.

A pandemia tem mostrado as consequências da falta de investimento naquilo que garante a vida do povo. Os cortes na saúde, na educação, nos direitos trabalhistas, têm provocado dor e sofrimento para milhões de pessoas, famílias. A vida de muitos brasileiros e brasileiras tem piorado no último ano, mas também é verdade que os mais ricos ficaram ainda mais ricos, às custas do aumento da pobreza entre os mais pobres.

Numa sociedade anestesiada se faz mais do que urgente encontrar caminhos de futuro, que garantam vida em plenitude para todos e todas. Construir o presente e o futuro é missão de todos e para isso todo mundo é desafiado a se envolver, a não ficar impassível diante de situações que estão prejudicando gravemente a vida do povo. Olhar para o outro lado, uma atitude cada vez mais presente em boa parte do povo brasileiro, só ajuda a piorar uma situação muito complicada.

A fé é um compromisso, uma fé desencarnada, que não quer se envolver na vida cotidiana, no sofrimento dos mais pobres, é algo que nos afasta de Deus. Não podemos esquecer que acreditamos num Deus que se encarna, que se faz gente, que se envolve na vida do povo, que tem lado, o lado dos excluídos, daqueles que a sociedade coloca do lado de fora.

2022 está chegando, e ele tem que ser um motivo a mais para refletir e encontrar caminhos de mudança, uma mudança radical, fundamentada num mundo melhor para todos e todas, fundamentada na construção do Reino de Deus, que deve marcar o caminho a seguir. Vivamos o novo ano como uma oportunidade que Deus nos dá, sejamos semente de esperança, especialmente para aqueles que não encontram motivos de felicidade em seu dia a dia. Feliz 2022.

Ouça:

*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB