Com versões divergentes, ninguém assume responsabilidade por falta de oxigênio em Manaus

Sobram versões e falta responsabilização pela falta de oxigênio em Manaus durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19 no Amazonas. No dia 06 de janeiro, a Rádio Rio Mar flagrou a falta de produto logo pela manhã, no Hospital Platão Araújo, na zona leste, quando uma paciente levada em ambulância do Samu levou consigo a maca e o cilindro de oxigênio para dentro da unidade hospitalar, pois naquele momento o local não tinha o item.

Apenas quatro dias depois, no dia 10 de janeiro, o governador do Amazonas, Wilson Lima, gravou um vídeo para dizer que havia sido comunicado pela fornecedora White Martins que faltaria oxigênio em breve no Estado, porque a empresa não teria capacidade de atender a crescente demanda na capital.

Como o governador mencionou no vídeo, uma operação com as forças armadas já estava sendo elaborada para trazer cilindros para o Amazonas. Ou seja, àquela altura, o governo federal já tinha conhecimento da situação, pois as operações com as forças armadas só podem ser feitas com o aval do Ministério da Defesa, que, por sua vez, é demandado pelo Ministério da Saúde.

No dia seguinte, em 11 de janeiro, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello esteve em Manaus para defender tratamento precoce da Covid-19 em Unidades Básicas de Saúde da prefeitura de Manaus, com medicamentos sem eficácia. Nesse dia, o governador Wilson Lima falou, na frente do ministro, que tinha sido comunicado pela empresa sobre o iminente problema de falta de oxigênio nos hospitais na quinta-feira anterior (07/01/2021). 

Também naquele mesmo dia 11 de janeiro, a secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério, Mayra Pinheiro, também falou do problema do oxigênio, na frente do ministro.

Mas Eduardo Pazuello só mencionou a escassez de oxigênio no dia em que foi embora do Amazonas, no dia 13, quando, antes de retornar à Brasília, fez um pronunciamento no qual admitiu o problema de desabastecimento em Manaus.

Na mesma semana, no dia 15 de janeiro, um dia após o desabastecimento da rede pública de saúde de Manaus, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski deu prazo de 48h para o governo federal apresentar plano detalhado com estratégias de enfrentamento do estado de calamidade no Amazonas.

Na resposta, o governo federal disse, por meio da Advocacia-Geral da União (AGU) que sabia da falta de oxigênio no dia 08, portanto, seis dias antes do momento crítico de desabastecimento.

Após a resposta, no dia 25 de janeiro o STF autorizou a Polícia Federal a investigar o ministro Eduardo Pazuello por suposta omissão.

No dia 4 de fevereiro, em depoimento à Polícia Federal, Pazuello disse que só ficou sabendo da falta de oxigênio no dia 10 e não mais no dia 08, como a AGU havia informado.

Já no último domingo (28/02), a AGU enviou um novo documento ao STF, no qual muda a versão apresentada no dia 17 de janeiro, e informa que o governo federal só recebeu comunicado da empresa White Martins, de que não conseguiria suprir a crescente demanda por oxigênio no Amazonas, no dia 17.

Essa versão não condiz com uma nota pública divulgada pela própria White Martins, no dia 14 de janeiro, na qual diz ter comunicado “formalmente de forma imediata e transparente às autoridades sobre a alta complexidade do fornecimento de oxigênio medicinal para Manaus, solicitando apoio diante de um cenário extremamente desafiador”, e que entre os pedidos, estavam “envio de requerimento junto à Anvisa; adaptação de equipamentos para transporte de oxigênio líquido nos aviões da Força Aérea Brasileira e solicitação formal de apoio logístico ao Ministério da Saúde”.

No dia 27 de janeiro, durante inauguração da enfermaria de campanha no Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz, Wilson Lima voltou a dizer que todos os órgãos de controle e o Ministério da Saúde foram informados de imediato sobre a falta de oxigênio.

O ‘hoje’ citado por Wilson Lima foi o dia 13 de janeiro. Enquanto isso, mais de 5,5 mil pessoas já perderam a vida para a Covid-19 apenas em 2021 no Amazonas.

Bruno Elander – Rádio Rio Mar

Foto: Herick Pereira/Secom/Governo do Amazonas