Editorial por Luis Miguel Modino*
Dialogar, um desafio cada vez maior em uma sociedade enfrentada. Todos os anos, durante o tempo da Quaresma, a Igreja católica organiza a Campanha da Fraternidade, algo que começou nos primeiros anos da década de 1960. Desde o ano 2000, mais ou menos a cada 5 anos, a Campanha da Fraternidade é Ecuménica, convocando a participação de diferentes Igrejas.
A última vez que isso aconteceu foi em 2016, ano em que foi refletido sobre o cuidado da Casa Comum. Em 2021, a Campanha da Fraternidade será de novo ecuménica, tendo como tema “Fraternidade e Diálogo: Compromisso de Amor”. Podemos dizer que as Igrejas cristãs são chamadas a dar um testemunho que possa ajudar a sociedade brasileira a ter consciência da necessidade de derrubar os muros do ódio e construir pontes de amor e paz.
Tempo de Quaresma é tempo de conversão e a cada dia se faz mais necessário superar as polarizações e violências tão presentes na nossa sociedade, e nos adentrarmos no caminho do diálogo. Isso deve acontecer permanentemente, cada um de nós tem que se perguntar o que está nos impedindo dialogar, escutar o outro, aprender a amar o outro, também quem pensa diferente, superando toda atitude preconceituosa.
O diálogo, o encontro com o outro, nos ajuda a superar medos e situações complicadas. A pandemia tem provocado graves feridas na nossa sociedade, que só serão curadas na medida em que desde o diálogo saibamos encontrar caminhos comuns, que nos ajudem a superar a insegurança que tem se instalado no meio de nós, a preencher os vazios que tem ficado diante da partida de tantas pessoas próximas.
Não podemos continuar apostando em uma sociedade que gera desigualdades, que provoca a rejeição do diferente, racismo, exclusão, que eleva os muros históricos, sempre presentes na sociedade brasileira, onde muitos se negam a dialogar, querendo impor sua visão da vida e do mundo. Isso nos afasta de toda possibilidade de diálogo, incrementando a insatisfação e o ódio contra o diferente.
O que eu posso fazer, o que eu tenho que fazer para assumir o diálogo como uma atitude sempre presente na minha vida? Em que esse diálogo pode ajudar em minha vida familiar, em minha vida laboral, em minha vida social? Quais os passos que eu devo fazer para entrar nessa dinâmica do diálogo?
Nosso sentimento espiritual, nosso sentimento religioso deve ser sempre uma ajuda em nosso avanço no caminho do diálogo. Nossa espiritualidade deve nos levar a melhorar nossa conduta, a buscar a compreensão mútua, a derrubar todo muro que nos separar dos outros, a criar vínculos duradouros que afiançam nossa vida em princípios que nos ajudam a fazer realidade um mundo melhor para todos e todas.
Precisamos de paz e isso só vai ser uma realidade a partir do diálogo que gera entendimento e promove a vida plena, superando todo sentimento de inimizade e ódio, respeitando e acolhendo a diversidade em vista do crescimento comum, algo que se torna mais fácil na medida em que assumimos a cooperação mútua. É momento de construir um tempo novo, uma nova realidade, baseada no diálogo como caminho de entendimento e fraternidade.
Ouça:
*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB