Dia da Amazônia: oportunidade para tomar consciência da necessidade de mudar de hábitos

Editorial por Luís Miguel Modino*

Amanhã, 5 de setembro, é comemorado o Dia da Amazônia, lembrando que nessa data, no ano 1850, o Príncipe Dom Pedro II decretou a criação da Província do Amazonas. Estamos diante de um momento propício para, mais uma vez, tomarmos consciência da importância fundamental da maior floresta tropical do mundo para o Brasil e para o mundo, uma atitude urgente diante de um sistema predatório que tem se instalado na região, fomentando o desmatamento, as queimadas, as hidroelétricas, o garimpo e o avanço da exploração agrícola.

A exploração da Amazônia faz parte do processo de invasão de um território que foi tirado dos povos originários, algo que está presente na região desde há mais de quatro séculos, mas que foi incentivado nos últimos 50 anos, promovendo a chegada de homens sem terra para uma terra sem homens. Nos últimos anos, o avanço do agronegócio tem provocado uma destruição nunca vista na região que está nos conduzindo ao ponto de não retorno, algo que não preocupa a quem chegou na Amazônia para depredar, ficar com o lucro e ir embora.

O atual governo brasileiro, partidário de passar a boiada, tem flexibilizado, mas também poderíamos dizer que tem desativado, as leis ambientais, fomentando a invasão das terras indígenas, o avanço do garimpo, das queimadas, que tem tomando proporções nunca conhecidas em 2019 e 2020. Hoje é punido quem fiscaliza e é apoiado quem depreda, uma atitude que, além de desrespeitar a lei, está provocando graves consequências para o maior bioma brasileiro e para os povos que o habitam.

Diante dessa realidade, criar consciência sobre a preservação da Amazônia tem se tornado uma necessidade inadiável. Cuidar da Amazônia é se preocupar com cerca de 40 mil espécies de plantas, milhões de diferentes insetos e cerca de 400 espécies de mamíferos. Nunca podemos esquecer que os recursos da região são limitados e que isso tem que nos levar ao cuidado, uma atitude sempre presente nos povos originários.

No dia 5 de setembro, também é comemorado o Dia Internacional da Mulher Indígena. Ser Mulher e ser Indígena nos remite ao cuidado com a vida. O Papa Francisco, em Querida Amazônia, nos diz que “a sabedoria dos povos nativos da Amazônia “inspira o cuidado e o respeito pela criação, com clara consciência dos seus limites, proibindo o seu abuso. Abusar da natureza significa abusar dos antepassados, dos irmãos e irmãs, da criação e do Criador, hipotecando o futuro”. O Papa Francisco os coloca como exemplo, afirmando que “os indígenas, “quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor os cuidam, desde que não se deixem enredar pelos cantos das sereias e pelas ofertas interesseiras de grupos de poder”. Na Amazônia é onde se faz realidade as palavras do Papa Francisco na exortação pôs-sinodal do Sínodo para a Amazônia, “a terra tem sangue e está sangrando, as multinacionais cortaram as veias da nossa Mãe Terra”.

A preocupação pela Amazônia só cresce diante da pandemia da COVID-19, que na Amazônia brasileira está beirando os 800 mil contagiados e os 20 mil falecidos. Diante disso, a Igreja católica tem prestado a sua contribuição para o cuidado e o crescimento da Amazônia e de seus povos, uma ideia recolhida em Querida Amazônia. Cuidar da Amazônia, do Planeta, uma preocupação neste Tempo da Criação, que a gente iniciava no dia 1º de setembro e vai se prolongar até 4 de outubro, tem que nos levar a mudar nossos hábitos, a entrar com os povos originários na dinâmica do bem viver, a ter “a capacidade de encontrar alegria e plenitude numa vida austera e simples”, que nos diz Querida Amazônia, na linha da sobriedade feliz, preservando os recursos para as gerações futuras. Quando a gente aprende a ser feliz com pouco, a gente não destrói sem necessidade, a gente preserva e cuida. Comemorar o Dia da Amazônia é a melhor oportunidade para tomarmos consciência disso. Será que a gente está disposto?

Ouça:

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.