Editorial por Luis Miguel Modino*
Nesta semana, no dia 20 de outubro, completou-se um ano do Pacto das Catacumbas pela Casa Comum, assinado por um grupo de bispos que estavam presentes na Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, junto com muitos padres, religiosas, religiosos, leigas e leigos. A celebração, que aconteceu nas catacumbas de Santa Domitila, em Roma, lembrava o Pacto das Catacumbas, assinado em 16 de novembro de 1965, onde os bispos signatários, que estavam participando do Concilio Vaticano II, prometiam levar uma vida simples e sem posses.
Desta vez, o novo pacto tinha como título “Por uma Igreja com rosto amazônico, pobre e servidora, profética e samaritana”. Era uma declaração de como ser Igreja na Amazônia, onde os assinantes experimentam “a força do Evangelho que atua nos pequenos”, nos “numerosos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, migrantes, comunidades na periferia das cidades”.
O pacto quer provocar uma reação “ante as agressões que hoje devastam o território amazônico, ameaçado pela violência de um sistema econômico predatório e consumista”. Mesmo neste tempo de pandemia, a gente vê que aqueles que pretendem destruir a Amazônia, possivelmente para sempre, não tem parado em seu empenho. As queimadas, o desmatamento, o garimpo legal e ilegal, continuam sendo uma grave ameaça para a Amazônia.
Essa situação mostra a urgência de levar para frente os compromissos assumidos no pacto, de defender a floresta em pé, tão importante no ciclo das águas, do carbono, na regulação do clima global e na biodiversidade. Ninguém pode esquecer que não somos donos da Mãe Terra, somos filhos e filhas, chamados a “acolher e renovar a cada dia a aliança de Deus com todo o criado”. A Igreja católica fez opção pelos povos originários, eles têm que ser os protagonistas e devemos aprender com eles, com suas culturas e cosmovisões.
Aos poucos vemos como esse cuidado da Casa Comum está cada vez mais presente na vida das nossas paróquias, áreas missionárias e comunidades, uma nova mentalidade, mais amazônica, está sendo assumida como caminho de futuro. Uma Igreja que se faz presente na vida do povo, que escuta, que acolhe o diferente e o vê como possibilidade de aprendizado. Uma Igreja que quer caminhar junto, que entende que juntos somos mais, onde todo mundo tem voz e vez.
Mas também somos chamados a fazer nossa sociedade partícipe desse cuidado da Casa Comum. Será que realmente a sociedade da Amazônia está preocupada com esse cuidado? Estamos em período eleitoral, e diante disso temos que nos perguntarmos se nos preocupa que os candidatos a prefeitos e vereadores contemplem esse cuidado como uma de suas prioridades e estejam dispostos a promover políticas públicas que favoreçam esse cuidado da Casa Comum.
A pandemia tem nos ajudado a entender que a gente pode viver com menos coisas, que podemos deixar para trás o consumismo e assumir um estilo de vida sóbrio, simples e solidário. Também nos converter e mudar de vida, gerar menos lixo, usar menos plásticos, consumir produtos agroecológicos. As mudanças se perpetuam quando nascem do cotidiano, é tempo de assumir um novo jeito de viver. Mas será que a gente quer mesmo?
Ouça:
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.