Cuidar da Amazônia, uma urgência inadiável

Editorial Por Luis Miguel Modino*

Cuidar da Amazônia se tornou uma urgência inadiável. Só aqueles que defendem que a Terra é plana não entendem que a conservação da Amazônia é fundamental para o futuro do planeta. Diante dessa realidade, a Igreja católica vem refletindo e dando passos nesse compromisso de cuidado. Na última segunda-feira, 29 de junho, acontecia mais um avanço nesse sentido, com o nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia.

 O novo organismo eclesial é uma sugestão da Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, que aconteceu no Vaticano de 6 a 27 de outubro de 2019. No Documento Final do Sínodo se fala de “criar um organismo episcopal que promova a sinodalidade entre as Igrejas da região, que ajude a delinear o rosto amazônico desta Igreja e que continue a tarefa de encontrar novos caminhos para a missão evangelizadora”. Junto com isso, o Papa Francisco, na exortação pós-sinodal Querida Amazônia, diz “que os pastores, os consagrados, as consagradas e os fiéis leigos da Amazônia se empenhem na sua aplicação”.

 É algo novo, diferente, que nasce da necessidade de caminhar juntos, de entender que Igreja é bem mais do que bispos e padres, a Igreja católica é Povo de Deus, do qual fazem parte homens e mulheres, e na Amazônia, os povos que nela habitam. Um elemento importante que deve servir como exemplo para nossa sociedade, acostumada a se deixar manipular pelo interesse de grupos de poder políticos e econômicos, que tomam decisões, especialmente na região amazônica, visando o que vai reportar um lucro maior.

 Se a pandemia que estamos vivendo não impedir, até o final do ano deve acontecer as eleições municipais, que devem ser precedidas por um tempo de campanha, mesmo sem saber como ela vai ser realizada. As boas intenções devem tomar conta das palavras daqueles que são especialistas em fazer promessas, mas será que realmente eles sentem a necessidade de fazer realidade os anseios do povo, uma vida melhor para todos e todas, de lutar por políticas públicas que garantam aquilo que não pode faltar na vida de ninguém: educação, saúde, segurança, emprego, direitos humanos garantidos, e assim por diante.

 A Igreja católica vem denunciando repetidamente as realidades de violência, exclusão e morte contra o bioma e os povos que habitam a Amazônia, uma realidade escancarada pela pandemia do COVID-19. Nos próximos dias deve se ultrapassar os 500 mil casos confirmados de contágios pela doença e os 15 mil falecidos na Pan-Amazônia, gente que paga a conta de uma história de descaso para com os povos da região.

 Tudo isso demanda uma conversão integral urgente e iminente, algo que a Igreja católica quer assumir com a criação da Conferência Eclesial da Amazônia, que quer ser uma boa notícia e uma resposta oportuna aos gritos dos pobres e da irmã mãe Terra, bem como um canal eficaz para assumir, a partir do território, muitas das propostas surgidas na Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, sempre na tentativa de promover o cuidado com a Amazônia e com os povos que a habitam, especialmente os povos originários, mais uma vez ameaçados por um etnocídio que ameaça com dizima-los.

 Ninguém pode ficar olhando para outro lado diante da realidade que estamos vivendo. Temos sido avisados, repetidas vezes, das consequências dos nossos erros, que mesmo sendo de uns poucos atingem a todos. É tempo de cuidar, uma ação conjunta, da qual devemos participar todos, também aqueles que nos próximos messes devem chegar perto de você para prometer que tudo vai ser diferente.

Ouça: 

*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.