Uma imagem aérea do Rio Madeira entre os municípios de Autazes e Nova Olinda do Norte, no Amazonas, mostra fileiras gigantescas de balsas, do modelo draga, utilizadas para o garimpo ilegal. As embarcações estão descendo o rio em busca de ouro. O ativista do Greenpeace Brasil Danicley Aguiar contabilizou mais de 300 balsas.
“Eles estão ali há pelo menos duas semanas sem serem incomodados por ninguém, isso que é mais estarrecedor. Você não tem nem a Polícia, nem as autoridades federais e estaduais foram checar a situação. A demanda agora é que o Estado se movimente, as autoridades dialoguem e coloquem um ponto final nesse cena dantesca que estamos vendo”, disse Danicley.
As atividades de exploração mineral naquela região são proibidas. O Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) disse que tomou conhecimento sobre a movimentação de dragas e não descarta também outros crimes, como mão de obra escrava; tráfico; contrabando ou problemas com a Capitania dos Portos.
O órgão estadual informou que vai apurar a real situação, mas que o problema requer o envolvimento de diversas forças. Danicley denuncia a licença política do Governo do Amazonas para que o garimpo aconteça.
“Apesar de não ter uma licença ambiental, essas atividades destrutivas acabam tendo uma licença politica porque a movimentação dos governos dos Estados de Roraima e Amazonas no sentido de liberar o garimpo no leito do Rio Madeira não é nova. A gente vem vendo movimentos dos dois Governadores nesse sentido. Aqui no Amazonas, a própria justiça federal determinou que o Estado recue das licenças ambientais para exploração de ouro no Rio Madeira”, contou o ativista.
A Prefeitura de Autazes obrou ações do Ipaam, pois os ribeirinhos e comunitários da comunidade Rosarinho se assustaram com os equipamentos e solicitaram ajuda para preservar o rio e os peixes. Esse trecho do Rio Madeira é o caminho mais rápido para os moradores chegarem a Manaus.
O ativista do Greenpeace lembra que todo o mundo discute medidas para construir um acordo para conter a crise climática global.
“E o Brasil dando sinal trocado para o mundo, de que dá licença para destruir. O garimpo é um exemplo dessa economia de destruição que se instalou na Amazônia e que vem consumindo floresta, vem consumindo a cultura dos povos e comunidades tradicionais da região, colocando em cheque a sobrevivência dos ribeirinhos e dos próprios municípios. Diferentemente do que muitos dizem que o garimpo gera riqueza, na verdade, o Estado não arrecada com garimpo. Pelo contrário, ele arrecada problema”, informou o membro do Greenpeace
Segundo o Greenpeace, essas balsas sempre estiveram no Rio Madeira de forma ilegal na região de Humaitá e são pouco combatidas. A última operação contra esse tipo de crime na região foi em 2017, quando houve conflito e o escritório do Ibama foi incendiado.
Para fortalecer a atividade ilegal, os proprietários de garimpos formaram uma cooperativa e utilizam recursos de comércio e outras atividades criminosas, como extração de madeira e tráfico de drogas.
Foram acionados ainda a Marinha do Brasil, o Ministério do Meio Ambiente, o Ibama e a Polícia Federal, que informou que estão em andamento as tratativas interinstitucionais sobre os garimpeiros na calha do rio Madeira.
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Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar
Foto: Silas Laurentino