O Colégio Pio Brasileiro, um pedacinho do Brasil em Roma, segundo o arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Jaime Spengler, acolheu o encontro dos cardeais brasileiros com a imprensa. Uma oportunidade para conhecer suas vivências no Conclave e nas congregações gerais prévias.
Mais peruano do que norte-americano
Uma experiência de diversidade, de partilha das expectativas de cada cardeal, em espírito de fraternidade, de fé, de oração e de diálogo fraterno, segundo o cardeal Spengler. Ele ressaltou a diversidade que faz parte do Papa Leão XIV e sua visão do mundo, difícil de encontrar em muitas pessoas. Dos cardeais eleitores presentes, não estava presente o cardeal João Braz de Aviz, o arcebispo de São Paulo (SP), cardeal Odilo Scherer, foi o único que participou do anterior conclave em 2013. O cardeal Scherer, que vê o novo Papa como alguém mais peruano do que norte-americano, destacou que o conclave é um momento de celebração, precedido de 12 dias de reflexão sobre a vida da Igreja e o perfil do Papa, em vista de se formar uma consciência, dada a responsabilidade enorme eu lhes foi encomendada.
Um conclave rápido, enfatizou o arcebispo de Brasília (DF), cardeal Paulo Cesar Costa, que destacou o papel do Papa dentro da Igreja e o papel político, de diálogo com a sociedade, buscando ajudar com que o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja possam iluminar as grandes questões que fazem parte da vida da humanidade. Elementos presentes nas congregações gerais, onde o arcebispo do Rio de Janeiro (RJ), cardeal Orani Tempesta, destacou a universalidade da Igreja, tendo visto o Conclave como oportunidade para ver como o Espírito Santo vai agindo.
O povo de Deus presente
O Conclave foi um momento em que os cardeais, que saíram da Capela Paulina invocando aos santos, sentiram a companhia de uma grande multidão, a presença da Igreja, segundo o arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, que disse que “nós encontramos o Espírito Santo”. Algo que ajudou diante do pouco conhecimento entre os cardeais eleitores e que fez perceber as possibilidades, “pensando a Igreja que está no mundo inteiro, pensando na diversidade de culturas”.
O arcebispo de Manaus destacou a importância da oração de tantas pessoas que rezaram pelo Conclave, sentir a companhia do povo de Deus. Ele agradeceu a Deus “pelo Papa que nós temos”, insistindo em que não será a repetição de outro Papa. Nele destacou sua condição de grande missionário, um homem dedicado. O cardeal Steiner destacou a importância da paz para os cristãos, dado que “o cristianismo nasce com um grande anúncio da paz”. O arcebispo de Manaus disse “as questões sociais, elas sempre terão que estar presentes. E o Papa tem uma grande sensibilidade para isso”, lembrando que “a diocese dele (Chiclayo-Peru), era uma diocese bastante pobre e ele se dedicou muito aos pobres”.
Um Papa que a exemplo daquele que levou o mesmo nome por última vez, não vai se eximir da importância da Doutrina Social da Igreja, “porque tem a ver com os pobres, com as periferias, com os povos originários, com a questão do meio ambiente, onde a Terra que está sofrendo, onde as pessoas estão sofrendo”. No Papa Leão XIV destacou que “é um homem que tem muita sensibilidade e é claro que devagarinho vai entrando dentro desse mundo todo, como fez Papa Francisco, como fez Papa Bento XVI, dentro da perspectiva de cada um. “Ele vai nos ajudar a entender o caminho, que é o caminho da paz, mas é o caminho também da liberdade e da libertação”, enfatizou o cardeal Steiner.
Tempo de comunhão
A Igreja inicia após o conclave “um tempo de comunhão na oração e na acolhida do novo Papa, tempo de reforçar nossa comunhão com o apostolo Pedro, Leão XIV, tempo de esperança pela eleição do novo Papa”, segundo o arcebispo de Salvador (BA). Ele destacou que “o novo Papa conhece a realidade da América Latina, foi bispo no Peru, ele traz no coração a América Latina”, lhe definindo como grande missionário. O arcebispo primaz do Brasil, que tem trabalhado com o Papa como membro do Dicastério dos Bispos, destaca seu “jeito simples, fraterno, acolhedor, sempre atento às necessidades de nosso tempo, muito unido ao Papa Francisco”.
Igualmente, sublinhou que Leão XIV está muito unido ao Brasil, e que tinha sido convidado para a Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O arcebispo falou sobre a possibilidade, mesmo em tom distendido, de receber o Papa Leão XIV no Brasil. Um Papa que conta com grande experiencia pastoral e que vai fazer muito pela paz, segundo o cardeal Sérgio da Rocha.
O Espírito Santo agiu
Don cardeais presentes, o arcebispo emérito de Aparecida (SP), dom Raimundo Damasceno, foi o único que não entrou na Capela Sistina para participar do conclave. Ele destacou a oportunidade de participar das congregações gerais, onde tinha a oportunidade de participar todo membro do Colégio Cardinalício. Ele disse que “o Espírito Sato agiu discretamente, mas efetivamente”, ressaltando que “o Papa idôneo para o momento atual, um mundo dividido por tantas guerras”.
Um Papado chamado a dar resposta diante de diversas realidades, como é a paz, os migrantes, e tantas outras. Para isso, como tem sido enfatizado ao longo das congregações gerais, o Papa não está só, toda a política do Vaticano é pensada em conjunto, ainda mais com um Papa de muita escuta, como foi ressaltado pelos cardeais presentes.
Texto e fotos: Pe. Luis Miguel Modino