Fraternidade e Fome é o tema da Campanha da Fraternidade de 2023. E antes de tentar combater o problema, é preciso entender as origens dele e se tornar um propagador de informações que ataquem a raiz do flagelo. No Brasil, um dos principais agravantes das desigualdades sociais é o sistema financeiro, que se alimenta da dívida pública, paga por toda a população, a altíssimos juros, os maiores do mundo.
Em 2022, o governo federal gastou R$ 4,861 trilhões. Desse total, mais de R$ 1,879 trilhão foi apenas para pagamento de juros e amortização da dívida pública. Ou seja, quase 40% dos impostos pagos pelos brasileiros ficam com os bancos e não retornam em serviços ou benefícios para a população.
Mas o que é a ‘dívida pública’? O nome pode causar aversão, mas é fácil de entender.
De forma direta, essa é a dívida feita pelos governos para cobrir outras dívidas, com prazos largos e juros altos, afinal os bancos brasileiros cobram os juros mais altos do mundo.
Essa ‘bola de neve’ começou no Regime Militar, sob o pretexto de financiar o desenvolvimento do País, de acordo com o engenheiro e escritor Arnaldo Mourthé, em depoimento no documentário de Carlos Pronzato, intitulado “Dívida pública brasileira – A soberania na corda bamba”.
“Nós nos ingressamos no processo do endividamento público com a ditadura .Foi a política instituída pela Ditadura, que foi uma exigência americana que deu início a dívida pública”, disse o escritor Arnaldo Mourthé.
Desde então, a ‘bola de neve’ só aumentou e o cidadão, que clama por melhores condições sociais para, pelo menos, não passar fome, na verdade tem alimentado, há décadas, um sistema financeiro que só ganha mais dinheiro e, consequentemente, poder, como explica o economista e ex-prefeito de Manaus, Serafim Corrêa.
“A dívida surgiu ao longo dos anos. Mas para se ter uma ideia, no final do governo Itamar Franco, a dívida interna Brasileira era de R$ 200 bilhões. Passados 30 anos, essa dívida está em 8 trilhões de reais, portanto é um valor muito significativo. Essa dívida foi se formando progressivamente para cobrir déficits orçamentários, de gastar mais do que arrecadar e, portanto, tinha que ser coberto ou com emissão de moeda, que gera inflação, ou com dívida. E foi ao longo do tempo sendo coberto com dívida. Essa dívida nunca foi auditada, ela nunca foi discutida. E o ‘mercado financeiro’ não quer auditoria da dívida. Eu entendo que cada coisa no seu momento, mas é hora do Brasil meter o pé no freio, porque nós metade do que nós estamos arrecadando é para pagamento de juros e serviços da dívida, que já representa algo em torno de 80% do PIB. Isso é muito ruim para o crescimento brasileiro”, disse Serafim Corrêa.
Como exemplo do aumento desenfreado dessa conta, a dívida pública dobrou em apenas três anos da gestão Fernando Henrique Cardoso (FHC). Conforme mostram os resultados das contas públicas até 1997m 1º de janeiro de 1995, primeiro dia do mandato de FHC, União, Estados, municípios e estatais, juntos, deviam R$ 153,163 bilhões em valores da época, segundo cálculo publicado pelo Banco Central em 1996. Após três anos consecutivos de déficit público, a dívida fechou 1997 em R$ 306,494 bilhões.
Dívida passa de R$ 8 trilhões
Conforme a associação, sem fins lucrativos ‘Auditoria Cidadã da Dívida’, a dívida pública interna brasileira hoje está em R$ 7,854 trilhões e a externa passa dos U$ 575 bilhões de dólares.
Enquanto as manchetes dos noticiários transparecem para a população que os problemas sociais brasileiros são consequência apenas da corrupção, quase metade de tudo que os cidadãos pagam em impostos vão na verdade para os bancos. Em 2022, por exemplo, o Brasil pagou mais de R$ 5 bilhões por dia de juros e amortização da dívida pública. Ou seja, os brasileiros pagaram quase 50 mensalões por dia aos bancos no ano passado.
Bruno Elander – Rádio Rio Mar
Foto: Marcello Casal/Agência Brasil