Quando o Papa Francisco esteve no Brasil, em 2013, e conheceu o projeto Barco Hospital no Rio de Janeiro, o Presidente e Guardião Geral da Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus, Frei Francisco Belotti, recebeu uma missão do Santo Padre.
“No Rio de Janeiro, perguntou se nós estávamos na Amazônia, eu disse que não e ele deu dois tapinhas no meu rosto e disse assim: ‘então devem ir’. Nós assumimos, na beira do Rio Amazonas, a Santa Casa de Óbidos (PA) e, depois, o Hospital 9 de Abril de Juruti (PA). Percebemos que as pessoas tinham dificuldade de chegar no hospital. Organizávamos mutirões de cirurgias e exames e as pessoas, muitas delas, não chegavam. Foi aí, então, que surgiu a ideia de criar um hospital que fosse até as pessoas”, afirmou.
Ter atendimento médico na Amazônia é um desafio por causa das condições logísticas, ainda mais nas comunidades ribeirinhas, onde é preciso viajar horas de barco para chegar a um hospital ou unidade de saúde.
A partir de 2022, indígenas, quilombolas e ribeirinhos do Amazonas também vão poder contar com uma embarcação como as que atuam no Estado do Pará. A estrutura do Barco Hospital São João XXIII já está pronta, nos próximos meses serão instalados os equipamentos para viabilizar os atendimentos médicos. A intenção é inaugurar até o fim deste ano. São 48 metros de comprimento com 4 pisos, do tamanho de um navio, para ser capaz de suprir demandas dessas populações, desde o atendimento básico até alta complexidade.
“Aonde tem uma série de consultas, inicialmente, depois tem uma série de diagnóstico e, se necessário for, cirurgias, se necessário for, internações e sempre acompanhado por duas ambulanchas, que, muitas vezes, levam pessoas operadas até suas residências”, explicou Frei Francisco Belotti.
O documento que transfere o Barco Hospital São João XXIII para a Fraternidade foi assinado na sede do Ministério Público do Trabalho na manhã desta quinta-feira (01). Em seguida, a embarcação foi abençoada no Porto de São Raimundo, pelo Arcebispo Metropolitano de Manaus Dom Leonardo Steiner.
“Esse Barco Hospital vai para além da Galiléia e da Decápole, vai para essa região toda da Amazônia, do Negro e do Solimões e haverá de curar também os enfermos, mas não apenas os enfermos do corpo, também os enfermos do espírito, da alma, porque Jesus, sempre que cura alguém, diz os teus pecados estão perdoados. Ele quer curar a pessoa por inteira. Que esse Barco Hospital seja esse sinal da presença misericordiosa de Deus no meio de nós em Jesus e que cada enfermo, cada enferma que entrar nesse barco hospital seja recebido como se recebesse por Jesus”, disse.
Os Frades da Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus vão cuidar do Barco Hospital, mas ainda será definido se a base será em Manaus ou em Parintins.
“Porque, na verdade, muita coisa que diagnosticamos nos barcos nós encaminhamos para algum hospital, então precisamos ter um hospital de referência”, disse Frei Belotti.
A Fraternidade já atua na Amazônia com o Barco Hospital Papa Francisco há mais de um ano e com o Barco Hospital Papa João Paulo II. São mais de 140 mil procedimentos já realizados. No Amazonas, a embarcação também vai contar com uma farmácia para distribuição de medicamentos.
O Bispo Diocesano de Óbidos, Dom Bernardo Johannes Bahlmann, participou da bênção da embarcação que vai atuar na capital do Amazonas. Segundo ele, os cuidados do Barco Hospital por meio da Igreja Católica é um milagre.
“Estamos, de fato, diante de um grande milagre. Todos os dias é uma grande bênção para muitas pessoas que procuram uma saúde melhor e também um atendimento. Hoje nós percebemos que muitas pessoas estão se envolvendo cada vez mais para poder ajudar, salvar vidas, atender bem e dar uma boa assistência na saúde”, contou o Bispo.
Parceria para aquisição do Barco Hospital
A embarcação foi adquirida por meio de uma parceria com o Ministério Público do Trabalho da 11ª Região, como explica o Procurador Jorsinei Dourado do Nascimento.
“Foram revertidos valores de processos judiciais em que o Ministério Público atuou e que empresas foram condenadas. Esses recursos que devem ser, obrigatoriamente, revertidos em projetos que beneficiem a sociedade amazonense estão sendo canalizados para esse projeto do barco, que tem uma finalidade social clara e evidente”, disse o Procurador Jorsinei Dourado do Nascimento.
A operacionalização dos trabalhos do Barco Hospital será feito pelo Sistema Único do Saúde e deve contar com o apoio de entidades públicas, civis e religiosas, além de outras doações que são feitas por meio de empresas brasileiras e estrangeiras.
Ana Maria Reis / Rádio Rio Mar