Editorial, por Luis Miguel Modino*
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil está realizando de 10 a 19 de abril, a 61ª Assembleia Geral, tendo como tema principal a elaboração das Diretrizes para a Ação Evangelizadora. Na semana passada, a gente questionava se interessa ao povo o que a Igreja diz, e hoje seria bom se perguntar se interessa à Igreja o que o povo diz.
Como elemento importante de uma Igreja sinodal, de uma Igreja que promove que todos os batizados e batizadas caminhem juntos, é proposto a necessidade da escuta. Daí a pergunta que a gente formula é se a Igreja está interessada naquilo que o povo diz, naquilo que o povo vive, naquilo que sustenta a caminhada de fé de todos os batizados.
Como a Igreja escuta, a quem a Igreja escuta, para que a Igreja escuta? O desafio é escutar com atenção, escutar a todos e todas, também àqueles que não fazem parte das comunidades e escutar para levar em conta aquilo que o povo está falando, como instrumento decisivo que ajude a avançar no caminho da evangelização.
Durante a assembleia, os jovens demandaram maior escuta, maior atenção, eles disseram aos bispos que querem que a Igreja os tenha mais em conta. É um grito que tem a ver com o futuro da Igreja, mas também com o presente, com a própria vida da Igreja, que precisa da força da juventude para continuar se revitalizando constantemente.
Um clamor que também chega do lado feminino da Igreja, das mulheres, daquelas que sendo a grande maioria nas comunidades, ainda são colocadas muitas vezes em segundo plano, como batizadas com direitos inferiores àqueles que têm os homens. Não escutar e tomar em consideração a voz das mulheres irá enfraquecendo cada vez mais a Igreja e os processos evangelizadores que nela acontecem. Pode servir como exemplo dessa força feminina na evangelização o fato de ter sido 18 as catequistas que receberam o ministério durante a Assembleia da CNBB, enquanto tinha só um catequista homem.
Escutar o povo vai fazer com que todos e todas os batizados se sintam plenamente envolvidos nos processos de evangelização, que seja assumido com maior entusiasmo aquilo que é proposto como caminho a seguir pela Igreja do Brasil. Penetrar na vida do povo, somar forças sempre é um desafio, o maior dos desafios para quem anuncia o Evangelho e pretende que essa Boa Notícia penetre na vida de cada pessoa.
Escutar com calma, sem preconceitos, se esforçando por descobrir os sinais de Deus presentes em cada pessoa, em cada realidade, também no meio daqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais. Quando a gente escuta, nossa voz também é escutada com maior atenção, quando a gente escuta nossa capacidade para responder às necessidade dos outros aumenta, quando a gente escuta nos aproximamos daqueles que colocam sua vida em suas palavras e esperam que seus sentimentos ecoem em nossos corações, no coração da Igreja.
Sem medo de escutar e sem condicionar a palavra dos outros, demos os passos que como Igreja nos ajude para que nossa evangelização possa transformar a vida de cada pessoa, a vida de uma sociedade que precisa de Deus e quer encontrar o caminho para chegar até Ele.
Ouça este editorial em áudio:
*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB