AM tem maio com recorde de queimadas e maior desmatamento entre janeiro e maio, aponta Inpe

O Amazonas teve o pior mês de maio da história quanto ao número de alertas de queimadas emitidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Após três meses consecutivos de redução, o Estado teve 81 focos de incêndio, a maior quantidade da série histórica de monitoramento, iniciada em 1998. Ao mesmo tempo, as áreas com avisos de desmatamento nos cinco primeiros meses do ano também foram recorde desde a implantação do sistema atual, em 2015.

MAIO AMAZONAS DESMATAMENTO

De acordo com o Inpe, o Amazonas teve 286 focos de queimadas entre janeiro e maio, período chuvoso na região. No mesmo período, os satélites identificaram desmatamento em 828 quilômetros quadrados. Isso equivale a quase oito vezes o tamanho da cidade de Paris e é maior do que todo o território da França, que tem 544 quilômetros quadrados.

Conforme o governo do Amazonas, dos 81 focos de queimadas em maio, 83% foram em territórios do governo federal, entre terras indígenas (40 focos), glebs federais (12 focos), unidades de conservação federal (11 focos) e assentamentos federais (5 focos).

O governo diz ainda que tem priorizado as estratégias de combate ao desmatamento e às queimadas ilegais, em especial, por meio da Operação Tamoiotatá 2. O trabalho iniciou no dia 7 de março, com foco nos municípios ao sul do estado, considerados os mais vulneráveis.

Sínodo para a Amazônia

“Além dos interesses econômicos de empresários e políticos locais, existem também os enormes interesses econômicos internacionais. Por isso, a solução não está em uma internacionalização da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave. Pela mesma razão, é louvável a tarefa de organismos internacionais e organizações da sociedade civil que sensibilizam as populações e colaboram de forma crítica, inclusive utilizando sistemas legítimos de pressão, para que cada governo cumpra o dever próprio e não-delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu País, sem se vender a interesses espúrios locais ou internacionais”, disse o Papa Francisco, no capítulo III, item 50 da exortação pós-sinodal chamada de ‘Querida Amazônia’.

Desconhecimento de parlamentar

“Até o Papa entrou na ofensiva desencadeada sobre a preservação da Amazônia pelos que desconhecem nossa realidade. Brasil é o País que mais protege sua floresta, que mais defende sua cobertura original segundo o estudo “Monitoramento por satélite sobre a evolução das florestas mundiais”. Se permitirmos essa ofensiva sobre a Amazônia, como alguns brasileiros estão permitindo, essa gente vai nos colocar, a nós amazônidas, como uma espécie em extinção como o mico-leão-dourado ou a ararinha azul. Se a Amazônia ficasse situada na Europa, já estaria extinta há muito tempo”, disse o senador amazonense, Plínio Valério (PSDB).

A análise das duas afirmações mostra profundo desconhecimento do político amazonense sobre o Sínodo para a Amazônia. Isso porque o Papa ouviu e consultou quem mais conhece a região: a própria população local e os povos tradicionais.

O processo sinodal começou em 2017 e foi até abril de 2019, com a escuta de quase 87 mil pessoas nos nove países que compõe a Amazônia: Brasil, Venezuela, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa.  Ainda mais, o próprio Papa Francisco viajou até a Amazônia, quando passou por Lima e Porto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018.

No processo, foram ouvidos leigos, leigas, povos tradicionais, consagrados e consagradas, sacerdotes, bispos, jovens e mais de 12 mil pessoas sem identificação de grupo. Além disso, parte destas pessoas foi até o Vaticano, participaram das reuniões sinodais, e foram ouvidas presencialmente pelo Papa Francisco. Apenas depois de todas as audiências com representantes da própria região amazônica foi que o Papa Francisco escreveu e divulgou a Exortação Pós-Sinodal, no dia 2 de fevereiro de 2020.

Bruno Elander – Rádio Rio Mar

Foto: Comando Militar da Amazônia/Divulgação