Editorial por Luis Miguel Modino*
A pandemia da COVID-19 tem provocado que a humanidade sofra a pior crise das últimas décadas, uma situação que tem colocado grande parte da população mundial numa situação de angustia e de incerteza diante de um futuro imprevisível. A maioria da humanidade e dos governos têm tentado procurar as melhores soluções, mesmo sabendo que os erros também têm estado presentes em algumas decisões tomadas.
O que a gente não entende é que existam pessoas e governantes que se acham donos da verdade e que só eles, fazendo o contrário do que a grande maioria faz, tem a solução aos problemas. São posturas que resultam inaceitáveis, a gente não pode se calar diante de tanta insensatez.
A última polêmica tem aparecido nos últimos dias, e faz referência às vacinas. Muitos científicos do mundo todo trabalham sem descanso na busca de uma vacina que possa ajudar a humanidade a superar a pandemia da COVID-19. Frente a essa atitude, a gente se depara com governantes, dentre eles aquele que comanda o Brasil, que não veem a vacina como algo necessário, deixando que a população possa escolher sobre algo que, de fato, prejudica todo mundo. O pior de tudo é que existem grupos que repetem consignas e fazem o povo acreditar em caminhos errados. Na rua e nas redes sociais, onde as milícias digitais estão cada vez mais presentes, nos deparamos com defensores da insanidade.
Muitos líderes mundiais, dentre eles o Papa Francisco, têm insistido na necessidade da unidade para superar a pandemia da COVID-19, de todos juntos remar na mesma direção. Mesmo assim, muitos se empenham em remar na direção contrária, inclusive em furar o bote, colocando em risco a vida de todos, uma prova de que a teoria da evolução parece ter parado no tempo, e que inclusive estamos voltando ao estágio original, ficando cada vez mais próximos da animalidade e nos distanciando da racionalidade.
O valor da ciência é inquestionável, sobretudo quando com seu trabalho ajuda a cuidar da vida. Devemos nos preocuparmos com o fato de que os índices de vacinação de crianças menores de um ano tenham apresentado uma queda de 51%, segundo o Ministério da Saúde. Não podemos continuar acreditando em notícias falsas, que provocam doenças e morte, que fazem com que muitas pessoas sofram, inclusive aquelas que tentam fazer a coisa certa.
Vacinar é uma obrigação, ainda mais quando a falta de vacina tem consequências para os outros. Não podemos ficar impassíveis diante da falta de compromisso com o bem comum, olhar para o outro lado quando a gente vê os erros, inclusive naqueles que foram eleitos para cuidar do bem de toda a população. Num mundo global, as consequências dessas atitudes podem provocar a rejeição dos países, fazendo com que as pessoas tenham cada vez mais impedimentos para se deslocar.
O desafio é grande, ainda mais diante de um futuro cheio de incertezas, mas somos chamados a reagir como sociedade. Não podemos tolerar que aqueles que querem uma volta atrás nos direitos, inclusive no direito à saúde para todos, queiram impor um sistema social já superado há anos. Não podemos aceitar doutrinas pseudoreligiosas, nem doutrinas conspiratórias, vindas daqueles que só se preocupam com seu próprio interesse. O futuro se constrói juntos, unidos, remando na mesma direção, nos preocupando com o cuidado do outro. Ser humanos é isso, o contrário é deixar que a animalidade tome conta da vida da gente.
Ouça:
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.