Editorial por Luis Miguel Modino*
No dia 21 de agosto, o Santo Padre surpreendeu o mundo ao dizer que “estou a escrever uma segunda parte da Laudato si’ para atualizar os problemas atuais”. Numa audiência com uma delegação de juristas dos países membros do Conselho da Europa, signatários do Apelo de Viena, o Papa Francisco revelou seu desejo.
Nas suas palavras, nas quais exprimiu o seu apreço pelas iniciativas que estão a ser tomadas para desenvolver um quadro normativo a favor da proteção do ambiente, afirmou que “nunca devemos esquecer que as novas gerações têm o direito de receber de nós um mundo belo e habitável, e que isso nos investe de sérios deveres para com a criação que recebemos das mãos generosas de Deus”.
A Laudato si’ é uma encíclica que promove o cuidado na interação dos seres vivos com o seu habitat, o cuidado com a casa comum. Com ela surgiu o conceito de ecologia integral, que chama a ouvir tanto o grito da terra como o grito dos pobres, que é o mesmo. De fato, são os pobres que mais sofrem as consequências da falta de cuidados com a casa comum.
Em oito anos, tempo decorrido desde a publicação da Laudato Si’, essas consequências acentuaram-se, apesar de alguns, quase sempre movidos por interesses económicos e pela sua falta de vontade de renunciar ao que poderíamos chamar “privilégios climáticos”, insistirem em negá-lo. As situações extremas multiplicaram-se e isso exige respostas firmes, que muitos governos não querem assumir. Quanto maior é a prosperidade, menor é a consciência da necessidade de cuidar da terra e dos pobres.
Ao longo destes anos – não podemos esquecer que a Laudato Si’ foi publicada apenas dois anos após o início do seu pontificado – o Papa Francisco entrou em maior contato com aqueles que podemos considerar mestres da ecologia integral, os povos indígenas. Movidos pela sua visão comunitária da existência, que leva ao cuidado mútuo, e da Terra como uma mãe que temos a obrigação de cuidar, devem ter-lhe oferecido diretrizes para o ajudar nas orientações que pretende dar à humanidade com o seu novo escrito.
Neste sentido, o Sínodo para a Amazónia, onde os povos indígenas foram protagonistas ao longo de todo o processo, e tudo o que foi refletido a partir do seu Documento Final e da Querida Amazônia ao longo dos últimos quatro anos devem ser elementos presentes no documento que está a preparar. Lá aparecem apelos à conversão e na exortação pós-sinodal a sonhar, e dentro destas conversões e sonhos está o ecológico, sempre entendido em relação e complementaridade com as outras conversões e sonhos.
Na audiência de 21 de agosto, Francisco referiu-se às novas gerações e ao seu direito a receber um mundo belo e habitável. Podemos dizer que os jovens devem ser outra das suas fontes de inspiração neste texto que tem em mãos. Um papa que olha sempre em frente, preocupado com aqueles que serão os gestores desse futuro, como expressou recentemente na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa.
Um texto que deve oferecer também elementos que ajudem a fazer avançar a boa política, uma ideia muito presente na outra grande encíclica do seu pontificado, Fratelli tutti. Cada vez mais políticos estão a prestar atenção às orientações que o Papa Francisco dá em relação à implementação da ecologia integral, o cuidado da casa comum. São ideias que estabelecem diretrizes para as políticas ambientais e para o cuidado com os mais pobres, e nisso ele pretende continuar a ajudar, apesar da resistência de alguns.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB