Editorial por Luis Miguel Modino*
No próximo domingo 30 de julho é o Dia Mundial de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, uma data instituída em 2013 na Assembleia Geral das Nações Unidas para conscientizar e promover direitos para as vítimas. O Tráfico de Pessoas existe na Amazônia e precisa ser enfrentado, atinge pessoas concretas, bem mais próximas da gente do que a gente pensa.
Aqueles que sofrem graves violações em seus direitos precisam ser acompanhados, defendidos, exigindo que seus direitos sejam respeitados, que eles possam ter uma vida digna. E isso depende de todos nós, de cada um de nós, depende de mim, mas também depende de você.
Dom Evaristo Spengler, bispo da diocese de Roraima e presidente da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEETH) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que “a mentalidade mercantilista e escravocrata ainda persiste em nossa sociedade e precisamos tomar consciência deste grave problema que é invisibilizado até mesmo em nossa igreja. Muitas vezes as pessoas perguntam: ‘será que ainda existe tráfico de pessoas?’ Esta comissão reafirma que o Tráfico de Pessoas existe e precisa ser enfrentado”. Ele fez um chamado a contribuir para combater esse crime, e um dos primeiros passos é debater a temática nos grupos organizados das comunidades, igrejas e coletivos.
Ontem, quarta-feira 26 de julho de 2023, Vatican News recolheu as declarações de Dom Edson Damian, bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira. Ele relatou o caso de adolescentes e jovens indígenas do Alto Rio Negro traficados para a Turquia: “Há mais de um ano visitei a família de um seminarista de São Gabriel da Cachoeira que estudava em Manaus. O pai dele é professor, e me contou que um irmão do seminarista tinha viajado para Turquia. Mostrou-me até fotografia do rapaz. Elegantemente vestido, mas com aquele quipá de muçulmano na cabeça e muito satisfeito disse, olha ele partiu para lá já faz um ano, mas antes ele teve que fazer um estágio em Manaus para aprender árabe e também ele se tornou membro de outra religião que tem o Alcorão. E ele foi lá porque prometeram que ele escolheria a faculdade que ele quisesse, advocacia, medicina. A escolha seria dele. Me mostrou fotografias dele também com outros jovens tomando coca-cola, estavam muito felizes”.
Dom Edson relata o acontecido com os jovens e como eles, com a denúncia da Rede um Grito pela Vida, a Polícia Federal conseguiu resgatá-los e trazê-los de volta para o Brasil. Esse fato deve nos levar a refletir sobre a realidade das vítimas e descobrir a necessidade de nos implicarmos na defesa daqueles que por diferentes motivos se tornaram vítimas da escravidão moderna, muitas vezes as famílias pensando que estavam tendo uma vida bem melhor, mas sendo em verdade escravos de organizações que nunca pensaram no benefício de essas pessoas.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB