Editorial por Luis Miguel Modino*
No dia em que a Igreja católica celebra a Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a festa da Eucaristia, que é a fonte e o cume da vida cristã, somos desafiados a nos questionarmos sobre as dificuldades que muitas comunidades têm no interior da Amazônia e em tantos outros lugares para celebrar a Eucaristia.
As grandes distâncias, o escasso número de presbíteros, o alto custo para chegar em locais afastados, condiciona essa celebração continua. De fato, o primeiro Mandamento da Igreja diz: “Participar da Missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho”.
E o que acontece com quem vive em locais onde a presença do padre é uma ou duas vezes por ano, inclusive a cada vários anos? Como cumprir aquilo que a Igreja manda? O Sínodo para a Amazônia refletiu sobre essas questões, uma reflexão que foi deturpada com questões que não tinham nada a ver. Simplesmente foi planteada a necessidade de procurar caminhos para que as comunidades tenham a possibilidade de celebrar a Eucaristia cada domingo, uma dificuldade que, em menor medida, também é vivida nas cidades, inclusive em Manaus.
Não colocamos em dúvida as leis da Igreja, mas também não podemos ter medo a refletir sobre se leis elaboradas séculos atrás continuam respondendo às necessidades daqueles que vivenciam sua fé na Amazônia no século XXI. Na medida em que o medo, ou outros condicionantes, não deixam pensar em caminhos de futuro eclesiais, isso condiciona e deteriora a caminhada da Igreja e a vivência da fé.
Não podemos esquecer que a Eucaristia é alimento que fortalece nossa vida e missão como discípulos e discípulas de Jesus. Seu Corpo e Sangue nos aportam o valor necessário para enfrentar os desafios da missão, para ir além e para enxergar a presença daqueles que tem fome de pão, uma dimensão que a Campanha da Fraternidade deste ano nos levou a refletir durante a Quaresma.
Quando Jesus é meu alimento, minha vida tem maior energia e isso me ajuda a fazer realidade seu projeto de Reino, um pedido que fazemos cada dia quando rezamos a oração que Ele mesmo nos ensinou. A Eucaristia visibiliza o Reino, porque a entrega, a partilha, são sinais do Reino. Valorizemos a Eucaristia, que ela seja celebração de vida, que não fique só em uma série de ritos e rubricas. Que possamos levar esse alimento para nossa vida cotidiana, uma vida que somos chamados a dar sentido pleno à luz de Jesus e de seu querer nos alimentarmos.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB