Desinformação é um dos desafio na vacinação contra a poliomielite

A falsa percepção de que as doenças preveníveis não representam mais ameaça, a ampla mobilidade em um mundo conectado e o volume massivo de notícias falsas estão entre os fatores responsáveis pela baixa cobertura vacinal em Manaus. Esses fatos foram discutidos na conferência virtual Diálogos da APS, pelo médico Wagner de Souza e pela enfermeira Eliane Fernandes, que atuam na Gerência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e por Diana Felício, enfermeira da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM).

A cobertura vacinal contra a poliomielite, conhecida como paralisia infantil, está em 75% na capital, abaixo da meta de 95% estabelecida pelo Ministério da Saúde para a população com menos de 5 anos de idade.

Wagner William de Souza, médico especialista em política e gestão da saúde, explicou que uma das marcas do mundo globalizado é o deslocamento frequente e significativo de pessoas, comportamento que, somado à baixa vacinação no país, torna preocupante o quadro atual de risco para a doença.

“Já tivemos situações recentes de casos de pólio nos Estados Unidos e em Israel, mostrando que o risco existe e com esse movimento de redução da cobertura vacinal a cada ano, estamos correndo o sério risco de ressurgimento de doenças como a pólio, que no passado deixou a sociedade em desespero. É uma doença que não tem tratamento e cujos casos graves ocorrem em crianças. Imagine o desespero se essa doença for reintroduzida. Eu não quero vivenciar isso. Será um preço alto para a sociedade”, assinalou.

Para Wagner, a falsa percepção das pessoas em relação à doença é um fator importante para a não vacinação. Ele lembrou que a doença pode comprometer as articulações e causar crescimento desigual, paralisia nas pernas, problemas na fala e atrofia muscular.

“A vacina sofre com um processo que tem a ver com o seu próprio sucesso. O fato de as pessoas hoje não vivenciarem ou sofrerem com sequelas resultantes da pólio, gera uma percepção de que a doença não existe. Mas essa doença não só existe, como em alguns lugares do mundo é endêmica. E ao contrário de antes, quando o mundo não era tão conectado e uma doença demorava para atravessar fronteiras, hoje a realidade é diferente. O cenário atual favorece a disseminação dos vírus e não estamos fazendo nosso dever de casa”, observou.

A enfermeira Eliane Fernandes, especialista em gestão de serviços de saúde, falou sobre o papel estratégico do profissional de saúde que atua na ponta do Sistema Único de Saúde, no atendimento à população para mudar esse quadro.

“É preciso que todos se engajem, existem situações em que é possível pedir a carteira vacinal da criança para verificar sua situação, é preciso aproveitar qualquer ação de saúde para sensibilizar as famílias sobre a importância da proteção contra a paralisia. Aproveitamos a conferência de hoje para reforçar que esse esforço é muito importante para a vida das crianças”.

A enfermeira Diana Felício destacou que a desinformação e as notícias falsas prejudicam o trabalho de sensibilização e para combatê-las é necessário o envolvimento de toda a sociedade. Ela apontou a necessidade de envolvimento de igrejas, escolas, gestores de centros de lazer, comerciantes, formadores de opinião e lideranças comunitárias.

“Os profissionais de saúde precisam do apoio de todos os que exercem uma liderança em sua comunidade. As fake news estão causando um prejuízo sem precedentes por conta da velocidade e do alcance com que são disseminadas. Se todos não tomarem esse compromisso pra si, teremos um cenário muito triste pela frente”.

Serviço

A Semsa disponibiliza a vacina contra a poliomielite em 171 unidades salas de vacinação que podem ser conferidas no link bit.ly/salasdevacinamanaus. Algumas unidades funcionam em regime de horário estendido até 19h e 21h.

As primeiras doses da vacina são injetáveis (VIP) e devem ser administradas aos dois meses, aos quatro meses e aos seis meses de vida. Ao completar 15 meses e aos 4 anos, a criança deve receber as doses de reforço, feitas com a gotinha (VOP). A população na faixa etária de 1 ano a menor de 5 anos de idade (4 anos, 11 meses e 29 dias) deve receber, de forma adicional, às doses de reforço durante as campanhas nacionais de vacinação.

Foto – Elienai Emanuel / Semsa