“Quem mente a si mesmo e escuta as próprias mentiras, chega ao ponto de já não poder distinguir a verdade dentro de si mesmo nem ao seu redor, e assim começa a deixar de ter estima de si mesmo e dos outros. Depois, dado que já não tem estima de ninguém, cessa também de amar, e então na falta de amor, para se sentir ocupado e distrair, abandona-se às paixões e aos prazeres triviais e, por culpa dos seus vícios, torna-se como uma besta; e tudo isso deriva do mentir contínuo aos outros e a si mesmo” (Fiódor Dostoevskij, Os irmãos Karamazov).
O viver humano que conduz à integridade e à convivência social saudável, fraterna, nasce do amor e da verdade. O amor como fonte das relações, a razão das relações, a força das relações. O amor que ilumina a verdade, não se expressa pela violência, pela agressão, pela desinformação, pelas notícias falsas. A verdade dá sentido ao viver humano, sentido de existir. A verdade que está acima da “minha verdade”, da “minha ideologia”.
Deixar-se guiar pela verdade em meio às acusações, ilações, inverdades, notícias falsas virou uma arte. Uma arte que eleva o ser humano, pois exercício de permanecer fiel ao que é digno de justiça e de fraternidade. É justamente nesse entremeio que se manifesta o que existe de digno, de nobre, de urbano, de fraternidade, de sensatez em cada pessoa. A mentira é degradação e desperta o que existe pior no ser humano.
Em meio às inverdades, no tempo de eleição, têm-se usado a religião para agredir, caluniar, angariar voto. A religião usada para desinformar, acusar. É lamentável e condenável o uso da religião para fins eleitorais. Usar a religião como meio de ameaça a fim de angariar voto tem cheiro de imoralidade.
As notícias falsas e o uso da religião têm deteriorado as relações na sociedade, nas comunidades, nas famílias. A inverdade separa, fragiliza as relações, pois cresce o distanciamento que se torna quase insuperável.
Temos obrigação como cidadãos, independente da vocação e do ministério, participar das discussões, das proposições, ao avaliar o voto. É lamentável que nas nossas comunidades católicas tenhamos lideranças, diáconos permanentes que tem postado notícias falsas levando a inverdades. Usar a religião, a posição de liderança, de ministério para enviar notícias falsas vai contra os ensinamentos de Jesus, diminui a autoridade e o ministério, o serviço.
Jesus, o Evangelho, não ensina a divisão, a violência, o uso de palavras e de notícias que não estejam baseada na verdade dos fatos. Participantes de procissões, tem demonstrado que o caminha juntos na fé, cuida das diferenças nas opções de voto, sem agressão, sem mentira. A religião, quando expressão da fé, a realidade mais profunda do Mistério, é capaz de manter a lucidez, iluminar as opções. É que a religião como expressão do Mistério, não é ideologia, não é sectarismo, fundamentalismo religioso. Ela, quando expressão da fé, deixar ser na diversidade, na diferença, sem violência e agressão. Na fé não existem inimigos. Encontram-se diferentes que formam a fraternidade, a comunidade.
Cardeal Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus