Por Luis Miguel Modino*
O editorial desta semana destaca que a luta e resistência são condições indispensáveis na conquista de direitos. Na sociedade brasileira, racismo e preconceito são atitudes presentes em muita gente, o que deve levar a uma reflexão em busca de desterrar aquilo que impossibilita a fraternidade e a cidadania plena.
19 de abril é comemorado no Brasil o “Dia do Índio”. Os povos originários do Brasil vêm reclamando há muito tempo que esse nome seja mudado para “Dia dos Povos Indígenas”, uma terminologia que evita continuar caindo em erros históricos, nascido do fato de Américo Vespucio pensar que tinha chegado às Índias.
O olhar folclórico em relação aos povos indígenas ainda está muito presente na mente de muitas pessoas, ficando longe da realidade que vivem os povos originários. A falta de respeito pelos diretos que a Constituição Federal Brasileira os garante é uma realidade cada vez mais presente, que deveria levar à sociedade a se posicionar em favor daqueles que são os primeiros habitantes das terras que hoje são conhecidas como Brasil.
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As ameaças contra o território, inclusive com o apoio e incentivo do poder público, se tornaram uma constante. As dificuldades para o aceso a direitos garantidos como é a saúde e a educação tem se tornado algo cada vez mais presente, uma realidade que aumentou com a pandemia da Covid-19, dificultando a sobrevivência desses povos, que tem visto como muitos dos seus membros, especialmente os anciãos, vieram a óbito, algo que compromete os conhecimentos tradicionais e com isso o futuro de sua cultura e identidade.
Por isso, o Dia dos Povos Indígenas tem que ser visto como momento de reflexão, de resistência, de luta, de resgate de uma história e uma cultura que carrega conhecimentos milenares, que tanto tem aportado na construção de um mundo melhor. Diante das múltiplas violações que os povos indígenas vêm sofrendo se faz mais do que necessário reagir para que esses povos possam continuar conquistando espaços que lhes pertencem.
Os povos indígenas brasileiros passam por situações vergonhosas, que deveriam indignar à sociedade, mas que são ignoradas. A denúncia realizada esta semana pela Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano (CEPEETH), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), onde mostra seu repúdio diante da violência contra o povo Yanomami, é mais um exemplo disso.
Não podem ser toleradas as violações e crimes que sofre o povo Yanomami, vítima de alarmantes e desesperadores ataques criminosos. A invasão do garimpo ao seu território tem provocado violência sexual contra mulheres e crianças, algo que acontece com o completo descaso do governo federal brasileiro.
O povo Yanomami, como acontece com os outros povos indígenas no Brasil, “encontra-se ameaçado, violentado e em grande vulnerabilidade sob precárias condições de vida, fome, desnutrição e sujeitos a adquirirem doenças endêmicas, infectocontagiosas como a malária, dentre outras”, denuncia a nota do CEPEETH.
A pregunta que devemos nos fazer é: será que vamos ficar calados e continuar olhando para o outro lado?
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB