Por Luis Miguel Modino*
Celebrar a Semana Santa é fazer memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. A gente só faz memória quando atualiza aquilo que está celebrando. Senão fizer isso, a gente fica em ritos que não são mais do que uma peça de teatro, talvez com boa aparência estética, mas que não influencia, não muda, não transforma a vida das pessoas.
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Jesus foi condenado à morte por um poder político e religioso corrupto, querendo sufocar a voz daquele que escolheu o lado dos marginalizados, dos excluídos, dos descartados, daqueles e aquelas que eram colocados do lado de fora da história, pessoas sem voz e sem vez, condenadas ao sofrimento, ao silencio, à marginalização social e religiosa.
Uma questão que cada um e cada uma de nós deveríamos responder é se Jesus continua sendo crucificado hoje. Junto com isso qual é nosso papel diante dessas situações, até que ponto colaboramos, também com nosso silêncio e falta de compromisso, de empatia, de compaixão, para que isso continue acontecendo.
Muita gente pensa, muitos de nós pensamos, que Jesus continua sendo crucificado hoje. Não podemos esquecer que a figura de Jesus vai além de um individuo ou de um momento histórico. Jesus pode ser considerado a prova mais evidente da encarnação de Deus, de um Deus que se faz visível, presença no meio do nós.
De fato, na liturgia católica, em diferentes momentos das celebrações, o povo diz que Ele está no meio de nós. Mas será que o reconhecemos nos momentos de dor ou só nos interessa nos momentos de glória e holofotes?
São tantos os homens e mulheres que hoje carregam a sua cruz… são tantos os rostos onde deveríamos descobrir o rosto sofrente de Cristo… Ele passa fome, está sem casa, vive mendigando e no subemprego, está banido das rodas sociais e das igrejas, está doente, sedento, é difamado… Entre nós está e não o conhecemos, entre nós está e nós o desprezamos.
Quem sabe nas celebrações da Semana Santa a gente não cante a música que tem em sua letra essas palavras. Mas será que isso vai nos ajudar a reconhecer o Cristo Crucificado nos crucificados de hoje, nas vítimas de tantos crimes que nos deixam indiferentes?
Façamos memoria, celebremos o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, atualizemos o maior Mistério de Amor que o mundo já teve oportunidade de contemplar. Só ficando ao pé da Cruz entenderemos esse Mistério de Amor que hoje mais uma vez se faz presente no meio de nós. Entendamos e assumamos que não há maior prova de amor que doar a vida pelo irmão. Mas para isso precisa fé e coragem. Será que eu tenho?
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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB