Editorial: Acolher, em nome de Deus, do jeito de Maria

Por Luis Miguel Modino*

Quem é que não sente a necessidade de estar à vontade quando chega num lugar novo? A vida é mais fácil quando isso acontece, quando a gente se sente em casa, quando a gente não tem a sensação de ser olhado pelos outros como um estranho.

Acolher deveria ser algo humano, mas ninguém pode duvidar que é algo divino, uma atitude que nos aproxima com esse Deus que sempre acolhe, escuta, cura as feridas e dá tudo o que Ele tem. Quando a gente acolhe nos tornamos instrumento de Deus na vida do povo, ainda mais na vida de tantas pessoas que, longe de casa, são vítimas da falta de escrúpulo daqueles que se aproveitam de sua vulnerabilidade.

O Papa Francisco tem a acolhida dos migrantes e refugiados como um dos temas mais recorrentes do seu pontificado, animando a Igreja a assumir essa atitude. Ele fala de quatro verbos, que na verdade são quatro atitudes que deveriam estar presentes na vida de todo batizado e na vida de todas as igrejas: “acolher, proteger, promover e integrar”. Infelizmente nos deparamos com “cristãos” que diante dos migrantes e refugiados tem atitudes totalmente contrárias.

A Igreja de Manaus tem mostrado nos últimos anos que essa acolhida aos migrantes, especialmente aos venezuelanos, mas também a pessoas chegadas de outros países, é uma prioridade como arquidiocese. São muitas as pessoas, especialmente a Pastoral do Migrante e a Caritas, que no dia a dia doam sua vida para que os nossos irmãos e irmãs possam se sentir à vontade, possam se sentir em casa.

Neste domingo, a Arquidiocese de Manaus viveu mais um episódio dessa atitude de acolhida aos migrantes. Na Catedral Metropolitana de Manaus, Dom Leonardo Steiner entronizava a imagem de Nossa Senhora do Valle, padroeira do Oriente venezuelano. De agora em adiante, essa imagem vai estar na igreja mãe da Arquidiocese de Manaus, no centro da cidade, um lugar onde muitos migrantes venezuelanos vivem seu dia a dia.

Dom Leonardo disse durante a celebração que nessa imagem os migrantes podem encontrar uma força para “para trilhar o caminho do sofrimento, da separação familiar, da saudade da pátria, do ter que pedir esmola”. Mas também insistiu em que ao entronizar a imagem na Igreja de Manaus, “desejamos assim expressar a nossa acolhida, o nosso amor, ajudar a enxugar as lágrimas, acalentar a saudade, é a manifestação do nosso amor para com nossos irmãos venezuelanos”.

Estamos diante de mais um pequeno gesto, que, em palavras do Arcebispo de Manaus, “talvez, na fé, ajude a cobrir a nudez e matar a fome”. O sentimento religioso fortalece nossa vida diante das dificuldades, viver em comunidade nos dá forças para ir além, para chegar onde sozinhos a gente não consegue. Acolher esse sentimento religioso também ajuda as pessoas a se sentir parte de uma Igreja que pelo fato de ser católica, é universal, supera divisões de raças, culturas, fronteiras, nacionalidades.

Nunca esqueçamos que Deus une, congrega, reúne. Ele faz isso porque o sentimento fundamental em sua vida é o amor. Caminhar com Deus tem que nos levar a amar, a exemplo dele, com os sentimentos de Maria, que desde os muros da Catedral de Manaus quer continuar sendo uma força para aqueles que sempre a imploraram do outro lado da fronteira como Nuestra Señora del Valle.

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*Missionário espanhol e Assessor de Comunicação do Regional Norte 1 da CNBB