Para vacinar o maior número possível de brasileiros com a primeira dose e dar fôlego ao sistema público de saúde do Brasil, com redução no número de casos e óbitos em meio à pandemia, o governo brasileiro decidiu não seguir a recomendação descrita na bula da vacina da Pfizer quanto ao intervalo entre as doses, que deveria ser de 21 (três semanas). O imunizante está sendo aplicado com intervalo de 12 semanas, ou seja, três meses.
A nota técnica enviada pelo Ministério da Saúde aos estados e municípios, no dia 29 de junho, cita recomendações recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e estudos em andamento nos Estados Unidos e no Reino Unido, que, de forma preliminar, identificaram maior pico de produção de anticorpos no esquema com intervalo de 12 semanas em relação ao esquema padrão de 21 dias.
A OMS recomendou, no dia 15 de junho, que “para países que ainda não atingiram elevada cobertura vacinal em grupos de elevada prioridade e que estão apresentando uma elevada incidência de covid-19, bem como restrição do número de doses de vacina, foquem em atingir elevada cobertura vacinal com a primeira dose estendendo o intervalo de vacinação para 12 semanas”.
O ‘vacinômetro’ do Ministério da Saúde aponta que o grupo prioritário no Brasil tem 78.284.044 pessoas, das quais 95,1% (74.495.810) já receberam a primeira dose ou dose única. Ainda assim, o governo federal manteve a decisão de aplicar as doses em intervalo de 12 semanas.
Em site oficial, a Pfizer diz que garante a eficácia de 95% da vacina a partir do sétimo dia da segunda dose, com esquema de duas doses em intervalo de 21 dias. Porém, informa que as indicações sobre regimes de dosagem ficam a critério das autoridades de saúde e podem incluir recomendações seguindo os princípios locais de saúde pública.
Porém, de acordo com um estudo preliminar da assessoria de imunização do governo do Reino Unido, o Ministério da Saúde informa que foi identificada eficácia de 52% entre a primeira e a segunda a partir do 12º dia e, de 89% entre os dias 15 e 21, indicando elevada eficácia já após a primeira dose.
A infectologista da Fundação de Medicina Tropical, Solange Dourado, que também é do setor de eventos pós-vacinais da Fundação de Vigilância em Saúde Rosemary Costa Pinto, afirma que a alta eficácia após a primeira dose é o principal benefício a ser considerado na estratégia de prorrogar o intervalo entre as doses.
O Ministério da Saúde cita, além do Reino Unido, resultados preliminares de estudos realizados em Israel e nos Estados Unidos. aplicação da vacina com intervalo de até 12 semanas entre a doses. Estados Unidos e Israel.
O doutor em microbiologia e virologista Átila Iamarino acredita que é hora de o Brasil encurtar os intervalos entre as doses vacinas para evitar que novas variantes consigam fugir da imunização.
O assunto foi alvo de questionamentos, nesta quinta-feira (08), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI da Covid). O questionamento foi feito pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) à ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fantinato.
Nesta quinta-feira (08), Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pernambuco e Santa Catarina decidiram antecipar a aplicação da 2ª dose da vacina contra a covid-19 da AstraZeneca. Os principais motivos são aumentar a parcela da população totalmente imunizada e evitar ultrapassar o prazo máximo de 12 semanas entre as doses, diante das dificuldades de entregas federais. A variante Delta, mais transmissível, também preocupa as autoridades.
Em São Paulo, especialistas do Centro de Continência Contra a Covid-19 do Estado debateram a redução do intervalo das doses da Pfizer e da Astrazeneca. Em coletiva de imprensa nesta quarta, o governo demonstrou preocupação com a nova variante, que já circula no Estado.
A Rádio Rio Mar procurou a OMS para perguntar se o Brasil faz certo ao dizer que segue recomendação da OMS, quando vacina adultos de 23 anos sem comorbidades com intervalo de três meses entre as doses da Pfizer.
A OMS respondeu que os países são autônomos e soberanos para criar os planos de vacinação. Porém, citou que, com base em estudos de eficácia em países que adotaram 12 semanas, os dados sobre a persistência da eficácia 1ª pós-dose estão atualmente disponíveis até 10 semanas no contexto da primeira versão do vírus e da variante Alfa.
A OMS diz que as evidências sobre o impacto de outras variantes na eficácia da primeira e segunda dose da vacina só agora estão surgindo. De acordo com a organização, a eficácia após uma única dose associada à variante Delta foi menor do que aquela contra a Alfa, enquanto em duas doses a eficácia foi similar para as duas variantes. Estes dados destacam a importância de fornecer uma segunda dose de vacina no contexto de variantes, que podem diminuir a eficácia de uma única dose.
Pfizer e Biontech, inclusive, informaram, nesta quinta-feira (8), que solicitarão autorização nos Estados Unidos e na Europa para uma terceira dose de reforço, com base em provas de maior risco de infecção seis meses após a inoculação e a propagação da variante Delta, considerada altamente contagiosa.
Porém, a Agência Reguladora dos Estados Unidos (FDA) informou, em uma nota conjunta com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do País, que os americanos que foram totalmente vacinados não precisam de uma terceira dose da vacina contra a Covid-19, neste momento.
Bruno Elander – Rádio Rio Mar
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