Editorial Por Luis Miguel Modino*
As consequências da pandemia da Covid-19 é algo que vai além da crise sanitária. Ao alto número de doentes e de mortes, uma situação que nas últimas semanas tem provocado muita dor e sofrimento em Manaus, se unem outras realidades que também estão gerando preocupação em muita gente.
Todos nós sabemos que diante dos problemas, a corda sempre quebra do lado mais fraco. Digo isso após ver como nesta semana a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Abrasel, formalizava a demissão de 10 mil trabalhadores “devido às medidas restritivas”.
O Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti, publicada no último mês de outubro, ele diz que “é indispensável uma política económica ativa, visando ‘promover uma economia que favoreça a diversificação produtiva e a criatividade empresarial’, para ser possível aumentar os postos de trabalho em vez de os reduzir”. Ele faz essa referência no ponto onde aborda a questão do neoliberalismo.
O argumento defendido pelo Papa Francisco é que “o mercado, por si só, não resolve tudo, embora às vezes nos queiram fazer crer neste dogma de fé neoliberal”. O texto de Fratelli tutti nos diz que esse é um “pensamento pobre, repetitivo, que propõe sempre as mesmas receitas perante qualquer desafio que surja”. O Papa afirma que “a suposta redistribuição não resolve a desigualdade, sendo, esta, fonte de novas formas de violência que ameaçam o tecido social”.
Situações como a que está acontecendo com a Abrasel, também presentes em outros setores sociais e econômicos no Brasil, em consequência da pandemia da Covid-19 e das políticas econômicas neoliberais, cada vez mais impulsionadas pelo poder público, tem que nos levar a refletir. Estamos diante de uma realidade que a cada dia que passa está se complicando e que daqui a pouco pode gerar uma bomba muito maior.
As situações que estamos vivenciando mostram as consequências de um sistema político e econômico onde o Estado se desentende, se tornando omisso. Quando isso acontece, quem paga a conta é a camada mais pobre da população, como está acontecendo com os funcionários dos bares e restaurantes. Os empresários reclamam diante dos decretos de lock down, mas nada falam de cobrar soluções do Governo Federal e Estadual, que nada fazem para resolver o problema.
Tão importante quanto reivindicar é forma em que a reivindicação é realizada. Nunca podemos esquecer que o bem comum deve ser prioridade. Nesse sentido, o Papa Francisco, também na Fratelli tutti, nos lembra que “a grandeza política mostra-se quando, em momentos difíceis, se trabalha com base em grandes princípios e pensando no bem comum a longo prazo. O poder político tem muita dificuldade em assumir este dever num projeto de nação”.
É por isso que ele defende “uma economia integrada num projeto político, social, cultural e popular que vise o bem comum” e uma política que “busca o bem comum”. É tempo de pensar em todos, de viver a fraternidade nas relações com os outros, de fazer tudo o que estiver ao alcance de todos para que a corda não quebre do lado mais fraco.
Ouça:
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.