Editorial por Luis Miguel Modino*
No último domingo, no dia em que é celebrada a festa de São Francisco de Assis, a gente conhecia o conteúdo da última encíclica do Papa Francisco, Fratelli Tutti, um “convite a um amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço”, mostrando que é feliz quem ama o outro. O novo escrito do Papa nos fala sobre a fraternidade e a amizade social, duas atitudes cada vez mais urgentes num mundo em que muitos se empenham em dividir e confrontar uns com os outros.
Também nesta semana, no dia 6, era comemorado o primeiro aniversário do Sínodo para a Amazônia, que teve sua Assembleia Sinodal de 6 a 27 de outubro de 2019 no Vaticano. Muitos dos elementos que fizeram parte do debate ao longo do Sínodo são recolhidos na nova encíclica, nos mostrando mais uma vez que tudo está interligado.
Poderíamos dizer que, da mesma maneira que aconteceu no Sínodo para a Amazônia, somos chamados a assumir uma atitude de cuidado. Não podemos esquecer que, cada vez mais, o cuidado é uma atitude fundamental, cuidado da casa comum, do nosso Planeta, do meio ambiente, mas sobretudo cuidado dos nossos irmãos e irmãs. O Papa Francisco nos diz na nova encíclica que “cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos”. Mas ao mesmo tempo, ele afirma que “um tal cuidado não interessa aos poderes económicos que necessitam dum ganho rápido”.
O cuidado é uma das melhores expressões da fraternidade, somos chamados por isso a descobrir a necessidade de nos constituirmos como um “nós”, uma ideia que nos ajuda a entender a necessidade de assumir o cuidado pelo outro, não perdendo aquele “mínimo de consciência universal e de preocupação pelo cuidado mútuo que ainda possa existir nas pessoas”, que se expressa em pequenos gestos de cuidado mútuo.
Uma das palavras que está mais presente na nova encíclica do Papa Francisco é diálogo. Numa sociedade onde o diálogo é uma prática cada vez mais incomum, somos chamados a assumir essa atitude como caminho para construirmos relações fraternas, a fazer realidade “um diálogo paciente e confiante”. Dialogar não faz com que a gente tenha que renunciar a nossas convicções, e sim a nos abrirmos a todos os que, com boa vontade, buscam juntos a verdade, como dá a entender o texto.
O diálogo ajuda, segundo Fratelli Tutti, “para que as pessoas, as famílias e as comunidades possam transmitir os valores da própria cultura e acolher o bem proveniente das experiências alheias”. Nesse sentido, podemos dizer que o Sínodo para a Amazônia, tem sido um instrumento de aprofundamento na realidade dos povos originários, que tem ajudado à Igreja a aprender um pouco a mais do que significa o cuidado da casa comum, “a partir do amor à terra, ao povo, aos próprios traços culturais”.
Construir uma nova cultura que tenha como base o diálogo social aparece como um desafio de futuro, sabendo que nesse diálogo encontra-se uma possibilidade de crescimento. Para isso o Papa Francisco faz um chamado a deixar de lado, “o costume de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso, onde se procure alcançar uma síntese que vá mais além”. É tempo de diálogo, de construir juntos, de sermos irmãos e irmãs.
Ouça:
*Missionário espanhol e membro da equipe de comunicação da REPAM – Rede eclesial Pan Amazônica.