Na última segunda-feira (12), houve a publicação do Atlas da Violência 2025, com informações de 2013 a 2023 e, nele, consta que o Amazonas teve cinco vezes mais feminicídios e 385 homicídios a mais do que a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP/AM) informou, em dois anos.
De acordo com o painel de indicadores criminais da SSP/AM, em 2022 o Amazonas teve 1.555 homicídios e, em 2023, 1.408. Os indicadores do Estado contabilizaram ainda 21 feminicídios em 2022 e 23 em 2023.
Contudo, o Atlas da Violência revelou que, na verdade, o Estado teve 1.771 homicídios em 2022 e 1.533 em 2023. Portanto, são 385 assassinatos a mais do que os que o governo do Amazonas admite. Isso representa uma divergência de 13%.
E com relação aos feminicídios, a diferença entre o que informa o governo do Estado e a apuração do Atlas da Violência é abissal. A SSP/AM diz no painel de indicadores que foram 21 em 2022 e 23 em 2023. Por outro lado, o Atlas identificou 118 feminicídios no Amazonas em 2022 e outros 122 em 2023. Portanto, a divergência foi de 196 feminicídios em apenas dois anos. Isso representa uma variação de 445% ou 5,4 vezes a mais.
A Rádio Rio Mar questionou a SSP/AM sobre a divergência entre as informações que Estado do Amazonas apresenta para a sociedade como oficial e aquelas apuradas pelo Atlas da Violência. Contudo, não houve nenhuma resposta.
Ao se expandir o período de comparação, é possível constatar que o Amazonas teve, em sete anos, entre 2017 e 2023, um total de 1.716 assassinatos a mais do que o governo do Amazonas informou oficialmente.
Isso porque o painel de indicadores criminais da SSP/AM contabiliza 9.560 homicídios entre 2017 e 2023. Já o Atlas da Violência identificou 11.276 assassinatos, uma variação de 18% em relação às informações da SSP.
O Atlas concluiu que entre 2013 e 2023, 8,6% das mortes por causa externa não tiveram a intencionalidade identificada, isto é, neste período, 135.407 pessoas morreram de morte violenta sem que os Estados identificassem a causa básica do óbito, se decorrente de acidentes, suicídios ou homicídios. Esses casos ficam registrados como Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI).
O Atlas constatou ainda que a incapacidade dos Estados em identificar a causa básica do óbito aumentou consideravelmente a partir de 2018. Conforme o estudo, parcela dessas MVCI são, na realidade, homicídios que ficaram ocultos nas estatísticas. E o fenômeno não é aleatório, pois se concentra justamente em estados populosos e que apresentaram reduções expressivas nos homicídios, como São Paulo, por exemplo, que teve queda de 49% em 10 anos .
O Atlas da Violência é um portal que reúne, organiza e disponibiliza informações sobre violência no Brasil. Foi criado em 2016 e é gerido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com a colaboração do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Bruno Elander – Rádio Rio Mar
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