Por Luis Miguel Modino
Na semana passada viralizou uma imagem do Papa Francisco chegando na Basílica de São Pedro sem sua batina branca. O motivo de algo que escandalizou algumas pessoas, mas também teve muitas reações de aprovação, foi o pedido do Santo Padre para ser conduzido a rezar no túmulo de São Pio X enquanto passeava nos jardins vaticanos.
Em uma sociedade onde a aparência é considerada superior à essência, onde a imagem é cuidada até o extremo, onde o photoshop se tornou instrumento para adaptar nossa imagem aos nossos desejos, a foto do Papa Francisco nos mostra que ele vai em outra direção. Francisco nos mostra que rezar é mais importante que as vestes que são usadas para nossa oração.
Igualmente, ele não tem problema em mostrar sua fragilidade, não pretende esconder que ele está doente, que ele é gente. Santo Inácio de Loiola, o fundador da Companhia de Jesus, a congregação da qual o Papa fazia parte, insiste em que o padre, antes de ser ministro ordenado, ele é batizado, e antes de tudo isso, ele é pessoa.
Francisco tem clareza de que seu ministério pontifício é um serviço à Igreja católica, mas também a toda a humanidade. Ele tem mostrado isso muitas vezes, mas sobretudo na Quinta-Feira Santa. Seu costume de lavar os pés aos vulneráveis, aos descartados da sociedade, inclusive a homens e mulheres não cristãos, nos mostra o modo dele entender seu pontificado.
Ele sempre se coloca a servir, na simplicidade, sem muito interesse pela aparência. Francisco é alguém que não se preocupa em retocar sua imagem, ele testemunha o Evangelho com suas atitudes de vida, com sua disponibilidade para se colocar ao serviço, para escutar os clamores da humanidade e da casa comum, para ser voz daqueles que a sociedade faz questão de não escutar, de não deixar falar.
A vida se torna exemplo para os outros, se faz testemunha, quando ela é verdadeira, quando a gente não esconde, não disfarça aquilo que nós somos. Muitas vezes nos deparamos com pessoas que se empenham em responder a estereótipos sociais, inclusive a estereótipos eclesiásticos. No atual pontífice, se faz visível a autenticidade de alguém que não se empenha em responder a esses estereótipos.
Diante disso, ainda mais no dia em que fazemos memória da entrega de Jesus, somos desafiados a nos questionarmos sobre aquilo que determina nossa vida como pessoas. Mas também como cristãos, na medida em que dizemos ter fé no Deus que se fez carne em Jesus Cristo. Somos presença dele quando vivemos do jeito dele, quando não temos problema em mostrar nossa humanidade, quando queremos viver sem retoques, sem photoshop.
*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB