O arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, esteve presente nessa terça-feira (15), na Sala Stampa vaticana, respondendo a diversas questões. Entre elas a situação climática na Amazônia, o papel das mulheres e a possível ordenação de diaconisas e de homens casados, e como na Igreja de Manaus e da Amazônia se vive a sinodalidade.
A sinodalidade tem a ver com o meio ambiente
Diante da situação climática que vive a Amazônia, castigada pelo segundo ano com uma seca extrema, o arcebispo de Manaus disse que “a sinodalidade tem a ver com o meio ambiente”. Reconhecendo que isso não está sendo abordado na Segunda Sessão da Assembleia Sinodal, ele disse que “se olharmos a Querida Amazônia, o Papa Francisco nos dá uma hermenêutica da totalidade que é tremendamente sinodal. A cultura, as questões sociais, as questões ambientais e a vida eclesial. Isso tudo forma uma totalidade hermenêutica”.
Nesse sentido, sublinhou o cardeal, “é que nós abordamos a questão de meio ambiente em nossa arquidiocese de Manaus, mas também nas outras dioceses que compõem nosso Regional Norte1”. Ele denunciou o momento dramático que a Amazônia vive, detalhando algumas situações ao respeito, dificultando o acesso às comunidades e o trabalho pastoral nelas. Uma situação climática que atinge outras regiões do Brasil, e que segundo o membro da Assembleia Sinodal, vive uma dramatizada provocada pelo desmatamento, “essa agressão ao meio ambiente na Amazônia, através do garimpo, a poluição das águas pelo mercúrio do garimpo, a pesca predatória”.
As mulheres na Igreja da Amazônia
O papel das mulheres na Amazônia é fundamental, sublinhou o cardeal Steiner. Em uma região onde as comunidades viveram por mais de 100 anos sem a presença do presbítero, “e as comunidades continuaram vivas, rezando, celebrando e tendo seus modos de oração”, enfatizou. Nesse sentido, ele disse que “as mulheres levaram adiante as comunidades e hoje estão levando a frente as nossas comunidades”, lembrando os ministérios que recebam as mulheres na arquidiocese de Manaus, da Eucaristia, da Palavra, dirigentes de comunidades, sendo proposto atualmente para as comunidades mais distantes que possam celebrar o Batismo.
“Várias das nossas mulheres são verdadeiras diaconisas, sem terem recebido a imposição das mãos. E essas diaconisas, nós gostaríamos de chamá-las diaconisas, mas para não dar confusão com o ministério ordenado, nós ainda não achamos uma palavra condizente”, afirmou o arcebispo de Manaus. Ele enfatizou: “é admirável, admirável, o quanto as mulheres são responsáveis pela nossa Igreja, é admirável”. O cardeal prosseguiu, “quantas delas estão à frente das comunidades, são dirigentes da Palavra de Deus, reúnem as comunidades para um momento de oração”, lembrando a presença feminina em algumas pastorais. Um trabalho que levou o cardeal a dizer que “a nossa Igreja, não seria a Igreja que é sem a presença das mulheres”.
Sobre a ordenação de diaconisas, o arcebispo de Manaus lembrou a existência de uma comissão que estuda essa questão historicamente. Ele questionou que “se nós vemos que isso historicamente já foi presente na Igreja, por que não restaurar o diaconato feminino ordenado se já houve na história da Igreja assim como se fez depois do Concílio em restaurar o diaconato permanente para os homens”. Ele insistiu em que “essas questões não deveríamos deixar de refletir, aprofundar, não deixarmos de recordar o papel fundamental, a missão fundamental da mulher na Igreja”. Lembrando as palavras de uma mulher em seu grupo, ele disse que “não vamos criar uma questão de género, é simplesmente uma questão de vocação na Igreja, a vocação da mulher dentro da Igreja, na Igreja, nas nossas comunidades”.
Do Sínodo da Amazônia ao Sínodo da Sinodalidade
O arcebispo de Manaus também refletiu sobre a realidade da arquidiocese, marcada pela presença indígena, dos migrantes. Falando sobre a continuidade entre o Sínodo para a Amazônia e o atual, ele disse que “o Sínodo da Amazônia abriu a possibilidade de termos um Sínodo da Sinodalidade”, destacando a participação de mais de 80 mil pessoas na preparação do Sínodo para a Amazônia, algo muito significativo, “um caminho que se foi fazendo”.
Conforme o cardeal, “a Sinodalidade é um caminho sem retorno”, pois “todos nós estamos entrando dentro de um movimento de ser Igreja, estamos sendo convidados a participar de um modo de ser Igreja aonde cada um que recebeu a graça do batismo e da crisma, foi revestido do Espírito Santo e de Jesus, se sintam responsáveis pela missão”.
Na Assembleia Sinodal, o cardeal disse estar querendo partilhar a experiência da participação de todos, uma riqueza enorme que nós temos”, lembrando que essa caminhada está presente há mais de 50 anos na Amazônia. Uma prática presente na arquidiocese de Manaus, onde mais de mil comunidades são consultadas para ver como ser mais Igreja missionária. Uma Igreja onde “os leigos vibram em puderem ser missionários e missionárias”.
Possibilidade de ordenar homens casados em algumas realidades
Sobre a ordenação de homens casados, ele disse que na arquidiocese de Manaus são mais de mil comunidades e 172 presbíteros, questionando como atender as comunidades, algo que disse lhe preocupar, pois não se consegue acompanhar a vida sacramental das comunidades. Depois de afirmar que o Santo Padre não fechou a questão, ele enfatizou que “para determinadas realidades não seria uma dificuldade admitir homens casados à ordenação”, reconhecendo que “para outras realidades na Igreja, é uma grande dificuldade”. Nesse sentido disse que a atitude do Santo Padre de não dar esse passo seja uma questão de garantir a comunhão.
Fonte: Regional Norte 1
Fotos: Divulgação