Editorial, por Luis Miguel Modino*
Os Mandamentos da Lei de Deus orientam nossa vida, e o terceiro mandamento diz: “Não tomar o nome de Deus em vão”. Diante das atitudes de alguns candidatos podemos dizer que o respeito por esse mandamento passa longe daqueles e daquelas que pretendem assumir um lugar nas prefeituras e câmaras de vereadores.
Não são poucos os quem em seus discursos e propagandas falam de Deus, mas de que Deus? Muitas vezes um Deus que responde aos seus próprios interesses, se distanciando daqueles que são os preferidos de Deus, os mais pobres e vulneráveis, aqueles a quem a sociedade, inclusive muitos que assumem cargos públicos em diversos níveis, descartam.
Quando um político ou um candidato fala de Deus, deveria assumir as atitudes de Deus, atitudes que nos levam a escutar os outros, a defender a vida sempre, a respeitar as diferenças, a cuidar da casa comum, a estar disposto a dialogar e perdoar, a defender a democracia. De fato, acreditar em Deus é bem mais do que falar dele, é viver segundo seus mandamentos.
O mau uso da política tem fomentado que aqueles que não tem a mesma opinião sejam vistos como inimigos, quando em verdade eles só são adversários. O debate político enriquece e a diversidade de pensamentos em busca do bem comum, de um mundo melhor para todos e todas, é uma necessidade no exercício da política, do cuidado daquilo que é de todos, daquilo que é comum.
O político que fala de Deus deve ser tolerante com as opiniões dos outros, o que deve levar a ser respeitoso e valorar que é possível viver de diversos modos. O desafio é concretizar aquilo que o Papa Francisco, na encíclica Fratelli tutti chama amizade social, a boa política. Ele fala sobre saber reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, de evitar todo desejo de domínio sobre os outros, de formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros.
São questionamentos que todo cidadão, todos aqueles que votam, deveriam se fazer. Quem não se preocupa com todos, quem não está disposto a olhar os prediletos de Deus, quem responde a interesses pessoais ou de pequenos grupos de poder, nunca deveria assumir um cargo público. O político que diz olhar e escutar a Deus tem que descobrir que para isso tem que dirigir seu ouvido, seu olhar, para baixo, porque o Deus cristão é um Deus que está no meio de nós, que passa fome, sede, necessidade, naqueles em que Ele está encarnado.
Digamos com o Papa Francisco: “O amor ao outro por ser quem é impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando essa forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos”. Que aquilo que o Papa nos diz em Fratelli tutti possa ser luz em nossa vida, também quando a gente apertar as teclas da urna eletrônica.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB