Editorial, por Luis Miguel Modino*
Cada ano no Mês de Setembro, as comunidades católicas no Brasil são convidadas a refletir sobre a Palavra, tendo como fundamento um dos livros da Bíblia. Em 2024, o livro proposto é o Livro de Ezequiel, com o lema “Porei em vós meu espírito e vivereis”. Uma oportunidade para conhecer a Bíblia, mas também para entender que esse texto nos leva a refletir sobre nossa vida, sobre nossas atitudes, sobre nosso modo de nos relacionarmos com os outros.
Só quando conhecemos, rezamos e meditamos a Palavra, conseguimos testemunhá-la. Nos encantarmos com a Palavra nos compromete, e faz com que os outros se encantem pelo efeito que essa Palavra provoca em nossa vida. A Palavra transforma, nos faz homens e mulheres novos, com um novo olhar, que nasce de Deus, um olhar marcado pelo espírito de Deus, que muda nossa vida.
O Mês da Bíblia nos leva a refletir sobre o espírito que nos dá vida, sobre aquilo que conduz nossa vida pessoal e comunitária. Quando deixamos que Deus ponha em nós seu espírito, nossa vida se plenifica, cobra maior sentido. Uma dinâmica importante em uma sociedade onde a materialidade, a individualidade, o imediatismo são colocados antes do que uma vida fundamentada no espírito.
Se faz necessário entender que a Palavra tem que se traduzir em atitudes de vida, que o texto sagrado não relata uma história do passado, e sim aquilo que acontece em nossa vida e em nosso meio. Essa Palavra tem que nos questionar como pessoas, como sociedade, como Igreja. Uma vida sem espírito acaba sendo uma vida que aos poucos vai morrendo, perdendo força de transformação.
A Palavra não pode ficar no papel, encerrada dentro do templo, da capela. A Palavra tem que ser levada para nossa casa, para nossa vida, daí a riqueza dos círculos bíblicos, dos encontros que são realizados em tantas casas. Uma Palavra que se concretiza através da realidade, com exemplos concretos, próximos da realidade que faz parte do nosso cotidiano, do nosso dia a dia.
Nessa Palavra vamos encontrando sinais de esperança, uma atitude cada vez mais necessária na vida de muita gente, que por diversos motivos foram perdendo seu caminho, o sentido de sua vida. Nessa perspectiva, seguindo aquilo que nos pede o Papa Francisco para o Jubileu do próximo ano, temos que ser peregrinos de esperança, sobretudo no meio daqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais.
Não nos conformemos com carregar a Bíblia embaixo do braço, carreguemos a Palavra no coração. Que ela seja a força missionária para todos nós como batizados e batizadas, mas também para nossas comunidades. Não façamos uma leitura da Bíblia desde o intelecto e sim desde o coração, desde uma conversão que nasce da voz de Deus no meio de nós.
Ouça este editorial em áudio:
Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB