Editorial, por Luis Miguel Modino*
A poucos dias do encerramento das Olimpíadas, que tem captado nossa atenção nas duas últimas semanas, somos chamados a refletir sobre os eventos globais e seu significado na vida da humanidade. Nascidos na cidade de Olímpia, na Grécia, os Jogos Olímpicos eram momento de encontro e competição, com uma referência aos deuses gregos.
A questão é o que hoje determina as Olimpíadas, se os Jogos Olímpicos continuam sendo marcados por aquilo que motivou seu nascimento no mundo antigo ou se outros interesses tomaram conta desse evento. Podemos dizer que aos poucos o interesse econômico tomou conta das Olimpíadas, que os ideais originários foram se perdendo aos poucos.
Somos chamados a refletir como humanidade sobre aquilo que determina nosso agir, sobre nossos interesses. Perder a gratuidade, não sentir o desejo de se encontrar com o outro, de ver nele alguém com quem partilhar a vida, está se tornando algo que vai marcando nosso modo de vida e somos chamados a refletir diante dessa realidade. A competição se tornou exigência de vitória e para ganhar, muita gente está disposta fazer qualquer coisa.
Frente a isso também nos deparamos com testemunhos de superação, com o exemplo de pessoas, de desportistas que respeitam o outro, que são conscientes que o adversário não é um inimigo, que a competição nos ajuda a crescer, sem precisar acabar com os outros para conseguir isso. Quem assume essas atitudes se torna exemplo para os outros, especialmente para as novas gerações, sempre à procura de referentes, mas que nem sempre são os mais apropriados em vista de seu crescimento humano.
As Olimpíadas é um grande encontro de países, de culturas, de religiões, de modos de entender a vida e a realidade, um crisol de diversidade, que deveria levar à humanidade a enxergar os valores positivos presentes nos outros. Numa sociedade que pretende apagar qualquer tipo de diversidade, seja do tipo que ela for, somos chamados a testemunhar que essa diversidade é fonte de crescimento pessoal, mas também como humanidade.
Recuperar o espírito olímpico, um período de paz, de harmonia entre os povos, é um desafio, que somos chamados a assumir como humanidade. Os valores humanos, mas também os valores cristãos, a unidade, a fraternidade, o esforço comum em vista do mesmo objetivo são elementos que devem ser assimilados por uma humanidade cada vez mais dividida, enfrentada, polarizada.
Que cada um e cada uma de nós assuma esse modo de vida pode ser um testemunho que ajude na mudança, cada vez mais necessária, e construa um mundo melhor para todos e todas, onde saibamos caminhar juntos e descubramos que juntos somos mais. O caminho está aí, estamos dispostos a avançar nele? Seremos capazes de fazê-lo juntos? Ninguém duvide que recuperar o espírito olímpico é caminho para um mundo melhor, mais fraterno.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB