Editorial, por Luis Miguel Modino*
Olhar para os povos indígenas, para os princípios que sustentam sua vida, é um exercício que pode nos ajudar a descobrir aquilo que deveria fundamentar nossa existência pessoal, mas também nosso ser sociedade, nosso modo de nos relacionarmos com os outros e com nosso entorno.
No mês de abril celebramos o Mês dos Povos Indígenas, tendo o dia 19 como momento concreto em que somos chamados a refletir sobre sua importância no futuro da humanidade e do Planeta. A comunidade e o cuidado do ambiente, daquilo que o Papa Francisco chama casa comum, são elementos fundamentais na vida dos povos originários e seu exemplo é um aprendizado necessário para aqueles que habitamos o Planeta Terra.
Tradicionalmente desprezados, ignorados, considerados cidadãos de segunda categoria, descartados pela sociedade dominante, os povos indígenas representam uma perspectiva de vida que deve ser considerada como caminho a ser seguido em vista de garantir aquilo que é comum a todos os seres humanos: a vida, vida em plenitude, o sumak Kawsay, o bem-viver, que tem permeado a vida dos povos originários ao longo dos séculos.
A felicidade é uma aspiração para a maioria das pessoas, os modos de concretizar esse estado dependem do momento histórico, da cultura dominante, da própria pessoa. Uma pergunta que deveríamos saber responder é aquela que tem a ver com o que nos faz felizes, o que faz que cada um de nós, mas também todos juntos como sociedade, sejamos felizes, possamos disfrutar da vida e da existência.
Nos povos originários a felicidade é um conceito que está intrinsecamente relacionado com a dimensão comunitária da vida, a felicidade é um conceito coletivo. Se faz necessário que todos participem desse sentimento de felicidade para que ele se torne pleno, para que não seja visto como algo incompleto.
Diante de uma sociedade onde o lucro, ter coisas materiais é colocado como elemento decisivo para ser feliz, as cosmovisões, o modo de ver o mundo dos povos originários se apresenta como uma alternativa válida para a sociedade global, mesmo reconhecendo a dificuldade de ser assumido esse modo de entender a vida.
Sempre é tempo de aprender, de entender que podemos mudar nosso modo de vida, que as propostas que vêm das periferias pode ser o caminho a seguir. No final das contas, a sociedade dominante sempre é comandada por aqueles que estão no centro das decisões sociais, políticas, econômicas. Eles poucas vezes reconhecem as luzes que vêm de fora dos espaços que ocupam, o que demanda novos olhares da realidade, buscando encontrar o que em verdade nos conduz até a plenitude da vida, mas da vida para todos e todas.
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Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB