Editorial, por Luis Miguel Modino*
Acreditamos num Deus encarnado, que se faz gente, que faz opção preferencial pelos pobres, por aqueles que a sociedade descarta, por aqueles que não contam. Diante de uma sociedade que nega os direitos fundamentais de boa parte da população, temos que nos questionar o que estamos dispostos a fazer, também como homens e mulheres de fé.
Lutar por direitos, lutar por terra, teto e trabalho, um chamado do Papa Francisco, assumido pela 6ª Semana Social Brasileira, que está realizando de 20 a 22 de março em Brasília seu Mutirão Nacional, tem que ser uma preocupação, uma situação diante da qual não podemos virar a cara, não podemos olhar para o outro lado. Na medida em que o compromisso é comum, os frutos são mais abundantes.
Diante do empenho de se fechar dentro dos templos, de ignorar os problemas que fazem parte da vida do povo, a Igreja nos oferece instrumentos que nos ajudam a tomarmos consciência de nos encarnarmos na realidade. A Campanha da Fraternidade é um claro exemplo, procurando ano após ano fazer realidade uma Igreja em saída, que vai ao encontro de problemáticas que precisam ser refletidas, enfrentadas, combatidas, superadas.
Quem se posiciona contra essas tentativas deve refletir sobre sua fé no Deus encarnado, que não podemos esquecer é fundamento do Deus cristão. Um Deus que em Jesus Cristo se faz companheiro de caminho e que nos desafia a acompanhar a caminhada daqueles que mais sofrem, daqueles que são privados dos direitos fundamentais, uma atitude sempre presente na vida de Jesus, aqueles de quem nos dizemos discípulos e discípulas.
Somos chamados, segundo o Papa Francisco disse aos participantes do Encontro Nacional da 6ª Semana Social Brasileira, a um compromisso que nos leve a “derrubar os muros do descarte e da indiferença, acompanhando os mais pobres e carentes dos direitos básicos em sua luta por terra, moradia e trabalho”. Um argumento mais do que válido para ir além daquilo que acontece dentro do templo, para não ficarmos numa Igreja de sacristia.
O cristianismo se concretiza quando nos comprometemos em vista de uma nova economia, quando fomentamos os valores democráticos que permitam fazer realidade uma sociedade onde todos e todas têm voz e vez, onde as decisões são tomadas com a verdadeira participação popular”.
Sejamos gente que em seu compromisso vai ao encontro dos outros, pessoas que não ficam indiferentes, que abrem os olhos para enxergar Jesus naqueles que são vítimas das injustiças sociais. Um compromisso a ser assumido por todos aqueles que se dizem gente, ainda mais por quem diz ter fé no Deus que em Jesus Cristo se faz carne. Nisso também temos que nos converter, pessoalmente e como Igreja, e a Quaresma é uma boa oportunidade para avançar nesse caminho de conversão.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB