Editorial por Luis Miguel Modino*
Tem muita gente que fica surpresa quando escuta que no Brasil existe trabalho escravo, mas infelizmente essa é uma realidade presente em um país onde os direitos humanos ainda não são para todos, e existem pessoas que se aproveitam da vulnerabilidade alheia para explorar essas pessoas e se enriquecer a costa do trabalho dos outros.
No próximo domingo 28 de janeiro é comemorado o Dia Nacional de Combate ao Trabalho Escravo no Brasil. A data faz memória do assinato de três auditores-fiscais do Ministério Público do Trabalho e Emprego (MTE) e seu motorista, mortos em 2004 a mando de empresários enquanto investigavam denúncias de trabalho escravo na cidade de Unaí, em Minas Gerais. Uma data de grande importância e que nos leva a lutar pela manutenção do combate às condições degradantes de trabalho durante todo o ano.
Desde 2003, ano em que começou a contagem dos casos, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, são mais de 40 mil pessoas resgatadas em situação de trabalho escravo. A grande maioria, 94 por cento, são homens, sendo raça e cor fatores de exclusão, de desigualdade.
2023, a falta dos números definitivos, tem sido o ano com maior número de pessoas resgatadas em um país onde se estima que um milhão de pessoas trabalham em condições análogas à escravidão. São números que devem levar a sociedade brasileira a um maior empenho em acabar com uma situação que agride gravemente a condição humana dos trabalhadores e trabalhadoras.
Bem sabemos que nem sempre é fácil enxergar essas situações e que as ameaças de todo tipo que sofrem os trabalhadores fazem com que eles tenham pouca condição de realizar as denúncias. Muitas vezes são pessoas em alto grado de vulnerabilidade, o que dificulta ainda mais esse tipo de denúncias. Como sociedade devemos ter a consciência de que está em nossa mão ajudar essas pessoas para que possam viver e trabalhar com dignidade.
O trabalho dos auditores do Ministério Público do Trabalho e Emprego é fundamental e tem que ser garantidos os recursos e condições para que eles possam fazer seu trabalho com plenas garantias de êxito. Também o trabalho da Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), de tantas instituições da Igreja católica e da sociedade civil que lutam por condições mais humanas no mundo do trabalho.
É tempo de parar e pensar, de refletir, de continuar lutando, de defender aqueles e aquelas que tem seus direitos mutilados, ignorados, massacrados. Nosso silêncio e falta de compromisso na luta tem que nos levar a entender que devemos desterrar essas atitudes de nossa vida, pois isso nos desumaniza, na medida em que não cuidado dos direitos humanos de todos e todas.
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*Missionário espanhol e assessor de comunicação do Regional Norte 1 da CNBB